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Promotoria abre
duas ações para
reaver R$ 46,5 mi
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Estado
de São Paulo entrou ontem com
duas ações civis contra o secretário de Serviços Municipais de
Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Sousa, por improbidade administrativa (má administração).
A Promotoria solicitou o bloqueio de bens do secretário e a
restituição de R$ 46,54 milhões
aos cofres públicos.
Nas duas ações, Klinger é acusado de usar o cargo para favorecer
a empresa do amigo Ronan Maria
Pinto, a Rotedali, que foi contratada pela Prefeitura de Santo André
para trabalhos de limpeza e de
manutenção de aterros sanitários.
Na primeira ação, Klinger é
apontado como o responsável por
uma licitação dirigida, no valor
total de R$ 40.033.200. Segundo
os promotores, o edital de convocação foi formulado de maneira a
restringir o número de participantes. Resultado: das 30 interessadas, apenas 2 empresas foram
selecionadas (Enterpa e Rotedali).
"Houve restrição na competitividade, (...) demonstrando a clara
intenção de beneficiar um determinado licitante", informou a
Promotoria na ação.
O contrato, que foi considerado
irregular por conselheiros do TCE
(Tribunal de Contas do Estado),
ainda está em vigência. Do valor
total previsto, a Prefeitura de Santo André pagou à Rotedali cerca
de R$ 22 milhões. Como ressarcimento aos cofres do município,
foi solicitado o pagamento de
duas vezes esse valor.
O bloqueio de bens e o pedido
de restituição da verba ao município estende-se também a Ronan e
à sua empresa.
Fábrica de emergência
Na segunda ação, em que Klinger é acusado de firmar contrato
com a Rotedali sem licitação, a
Promotoria pediu a restituição de
cerca de R$ 2,32 milhões aos cofres públicos.
Essa segunda ação atinge, além
de Klinger e de Ronan, outros cinco servidores que, em algum momento, contribuíram para a para
o contrato irregular. São réus:
Ana Carla Albiero (diretora de
Serviços Municipais), Paulo José
Baptistella (diretor de Obras),
Amélia Yoshiko Okubaro (ex-consultora-geral de Assuntos Jurídicos), Cleide Madeira (corregedora-geral de Assuntos Jurídicos)
e Rosana Glória de Senna (ex-presidente da Copel, a Comissão Permanente de Licitações).
Segundo os promotores, a secretaria de Klinger "fabricou"
uma emergência para contratar a
Rotedali sem a necessidade de
convocar uma licitação pública
-a concorrência só pode ser dispensada mediante situação adversa e imprevisível, como em caso de calamidade pública.
Segundo a Promotoria, não foi
o que ocorreu. Antes da Rotedali,
a prefeitura mantinha um contrato com a Enterpa, com término
previsto para 30 de junho de 1999.
O normal, nesse caso, conhecendo o prazo-limite do contrato, seria abrir com antecedência um
processo licitatório. Mas, em junho, alegando falta de tempo, a
prefeitura contratou a Rotedali.
"Foi a administração que, por
desídia, criou a emergência, ou,
como diz a doutrina, fabricou a
emergência", informaram na
ação os nove promotores que assinaram a ação. Todos os réus negaram, por meio de seus advogados, as acusações.
Crime
Klinger, Ronan e outras quatro
pessoas foram denunciadas (acusados formalmente) na última semana, pela Promotoria de Justiça
Criminal, por formação de quadrilha e por concussão (extorsão
praticada por funcionário público). Eles são acusados de achacar
empresários do setor de transporte público da cidade -parte do
dinheiro, segundo denúncias, serviu para financiar campanhas
eleitorais do PT.
O pedido de prisão para os seis
envolvidos, solicitado pelo Ministério Público, está em fase de recurso -a Justiça de primeira instância considerou a medida "desnecessária".
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