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PF SOB SUSPEITA
Delegado pediu apuração em nome de CPI, mas não havia denúncia
Investigação sobre Lula só foi suspensa ontem pela PF
DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Iniciada em dezembro de 2000,
um dia antes de terminar a CPI do
Narcotráfico, a investigação sobre
o presidenciável Luiz Inácio Lula
da Silva feita pela Polícia Federal
foi suspensa somente ontem,
após despacho do delegado Rodney Rocha Miranda à direção geral da PF sugerindo a suspensão
até que apareça fato novo.
Pela manhã, o diretor-geral da
PF, Itanor Neves, chegou a negar,
em Corumbá (MS), que a corporação tivesse investigado Lula. À
tarde, a assessoria da PF, em Brasília, explicou que não há inquérito, e sim um procedimento de investigação.
A iniciativa da apuração é obscura. Em nome da CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) do
Narcotráfico, o delegado Alberto
Lasserre Kratzl Filho, que assessorava a comissão na Câmara, encaminhou ao coordenador-geral
central da PF denúncia segundo a
qual Lula seria "possuidor de alguns imóveis registrados em nome de terceiros ("laranjas')".
O memorando nš 32 tem a data
de 4 de dezembro de 2000, um dia
antes do encerramento da CPI. A
denúncia foi encaminhada a
Kratzl Filho pelo escrivão da PF
Paulo Roberto Poloni Barreto em
24 de novembro de 2000.
O escrivão diz no documento
que a denúncia teria sido feita por
Fernando Tenório Cavalcanti,
que dizia ser ex-prefeito de São
Bernardo (SP), em ligação telefônica. Ontem, a coordenação de
arquivo da Câmara emitiu declaração afirmando que o memorando usado por Kratzl e o documento do escrivão "não integram os
autos da CPI do Narcotráfico".
A partir do memorando de
Kratzl, a PF iniciou vários procedimentos. Os documentos constam de um grupo de 11 páginas de
despachos que o ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., entregou ao
presidente do PT, deputado José
Dirceu (SP), no mês passado.
Dirceu procurou o ministro para saber sobre a veracidade de informação de que agentes da PF estavam na Grande São Paulo para
investigar Lula. Ao negar a informação, Reale entregou os papéis.
"Diligências"
Em um dos documentos, o
agente Gilvan de Sousa Figueiredo relata que no dia 11 daquele
mês Fernando Tenório compareceu à PF entregando documentos
que foram anexados ao despacho.
"Verificamos que a melhor medida a adotar seria o envio do presente expediente, juntamente
com toda a documentação, à Superintendência da Polícia Federal
em São Paulo, para que procedam
as diligências necessárias para
apurar a veracidade da denúncia." O agente sugere também "a
oitiva do denunciante [que ele seja ouvido"".
Em 6 de fevereiro de 2002, o delegado da PF Rômulo Fisch de
Berrêdo Menezes se pronuncia
dizendo que, da análise dos papéis, não há evidências para investigação, e concorda com a sugestão do envio dos documentos
para que sejam feitas diligências.
Ontem, o presidente da CPI,
Magno Malta (PL-ES), pediu providências de Reale Jr.. Ele quer a
abertura de processo administrativo para apurar as responsabilidades de Kratzl. "É necessário um
exame grafotécnico. Se ficar comprovado que a assinatura é dele,
será necessário explicar a serviço
de quem ele estava", disse, negando que houvesse qualquer denúncia envolvendo Lula na CPI.
Segundo Malta, o delegado não
tinha poderes para enviar memorando em nome da CPI nem a alegação de registro irregular de
imóvel era objeto de investigação
da comissão. O deputado Fernando Ferro (PT-PE), vice-presidente
da CPI, pediu que o presidente da
Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), apure o uso indevido de memorando da CPI.
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