São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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PF SOB SUSPEITA

Delegado pediu apuração em nome de CPI, mas não havia denúncia

Investigação sobre Lula só foi suspensa ontem pela PF

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Iniciada em dezembro de 2000, um dia antes de terminar a CPI do Narcotráfico, a investigação sobre o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva feita pela Polícia Federal foi suspensa somente ontem, após despacho do delegado Rodney Rocha Miranda à direção geral da PF sugerindo a suspensão até que apareça fato novo.
Pela manhã, o diretor-geral da PF, Itanor Neves, chegou a negar, em Corumbá (MS), que a corporação tivesse investigado Lula. À tarde, a assessoria da PF, em Brasília, explicou que não há inquérito, e sim um procedimento de investigação.
A iniciativa da apuração é obscura. Em nome da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico, o delegado Alberto Lasserre Kratzl Filho, que assessorava a comissão na Câmara, encaminhou ao coordenador-geral central da PF denúncia segundo a qual Lula seria "possuidor de alguns imóveis registrados em nome de terceiros ("laranjas')".
O memorando nš 32 tem a data de 4 de dezembro de 2000, um dia antes do encerramento da CPI. A denúncia foi encaminhada a Kratzl Filho pelo escrivão da PF Paulo Roberto Poloni Barreto em 24 de novembro de 2000.
O escrivão diz no documento que a denúncia teria sido feita por Fernando Tenório Cavalcanti, que dizia ser ex-prefeito de São Bernardo (SP), em ligação telefônica. Ontem, a coordenação de arquivo da Câmara emitiu declaração afirmando que o memorando usado por Kratzl e o documento do escrivão "não integram os autos da CPI do Narcotráfico".
A partir do memorando de Kratzl, a PF iniciou vários procedimentos. Os documentos constam de um grupo de 11 páginas de despachos que o ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., entregou ao presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), no mês passado.
Dirceu procurou o ministro para saber sobre a veracidade de informação de que agentes da PF estavam na Grande São Paulo para investigar Lula. Ao negar a informação, Reale entregou os papéis.

"Diligências"
Em um dos documentos, o agente Gilvan de Sousa Figueiredo relata que no dia 11 daquele mês Fernando Tenório compareceu à PF entregando documentos que foram anexados ao despacho.
"Verificamos que a melhor medida a adotar seria o envio do presente expediente, juntamente com toda a documentação, à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, para que procedam as diligências necessárias para apurar a veracidade da denúncia." O agente sugere também "a oitiva do denunciante [que ele seja ouvido"".
Em 6 de fevereiro de 2002, o delegado da PF Rômulo Fisch de Berrêdo Menezes se pronuncia dizendo que, da análise dos papéis, não há evidências para investigação, e concorda com a sugestão do envio dos documentos para que sejam feitas diligências.
Ontem, o presidente da CPI, Magno Malta (PL-ES), pediu providências de Reale Jr.. Ele quer a abertura de processo administrativo para apurar as responsabilidades de Kratzl. "É necessário um exame grafotécnico. Se ficar comprovado que a assinatura é dele, será necessário explicar a serviço de quem ele estava", disse, negando que houvesse qualquer denúncia envolvendo Lula na CPI.
Segundo Malta, o delegado não tinha poderes para enviar memorando em nome da CPI nem a alegação de registro irregular de imóvel era objeto de investigação da comissão. O deputado Fernando Ferro (PT-PE), vice-presidente da CPI, pediu que o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), apure o uso indevido de memorando da CPI.



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