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Presidente quer evitar vazamento de grampo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Temendo ser acusado de usar o
aparato policial do Estado com
intenção político-eleitoral, o presidente Fernando Henrique Cardoso determinou à direção da Polícia Federal que se esforce ao máximo para evitar o vazamento de
fitas do grampo judicial de pessoas ligadas à Prefeitura de Santo
André, administrada pelo PT de
Luiz Inácio Lula da Silva.
FHC e a PF também estão preocupados com os rumores de que
agentes federais ou arapongas da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência) estariam envolvidos na
gravação, legal ou não, de um dirigente nacional do PT.
A ao menos dois interlocutores
FHC se disse surpreendido com a
informação de que a PF paulista
pediu à Justiça autorização para
grampear telefones em Santo André sem saber a quem os números
pertenciam. Houve escuta até do
prefeito João Avamileno.
Segundo a PF, o pedido de
grampo se baseou em informações de "alguém que ligou anonimamente" para a polícia e forneceu números de telefone. A Justiça aceitou o pedido, de acordo
com a PF, porque havia a suspeita
de que "uma quadrilha de narcotraficantes teria sido contratada
para executar o sequestro" do
prefeito Celso Daniel, sequestrado e morto em janeiro.
A Folha apurou que o próprio
presidente achou essa versão da
PF inverossímil, ainda que verdadeira, e desconfiou que a polícia
ou o juiz tenham sido usados por
personagens que circulam no
submundo da fabricação de dossiês em anos eleitorais.
Aos mesmos interlocutores, o
presidente disse que não acredita
que tucanos estejam por trás desses grampos e muito menos pessoas ligadas ao candidato do
PSDB ao Planalto, José Serra.
Rolo compressor
Apesar dessas avaliações, FHC e
o comando da campanha de Serra
crêem que o caso de Santo André
(acusação de esquema de propina
numa administração petista), que
poderia ser bom eleitoralmente
para o PSDB, poderá se voltar
contra os tucanos.
Ou seja, as circunstâncias do
grampo de Santo André mais a
confirmação de que uma denúncia feita à CPI do Narcotráfico
também levou a PF a investigar
Lula podem voltar a alimentar a
versão do rolo compressor federal
para eleger Serra ultrapassando
os limites da ética.
FHC teme que o vazamento dos
grampos dêem eco às acusações,
sem provas, que o PFL fez em
março, quando a sigla disse que a
ex-governadora Roseana Sarney
(MA), então pré-candidata a presidente, fora investigada para beneficiar Serra.
Roseana desistiu da candidatura por não explicar a origem de R$
1,34 milhão apreendido pela PF
em uma empresa dela e do marido, Jorge Murad. Mas acusou a PF
de grampo. O episódio fez o PFL
romper com FHC. O presidente
do PFL, Jorge Bornhausen, também disse ter tido telefonemas
monitorados. A PF nega.
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