São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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Presidente quer evitar vazamento de grampo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Temendo ser acusado de usar o aparato policial do Estado com intenção político-eleitoral, o presidente Fernando Henrique Cardoso determinou à direção da Polícia Federal que se esforce ao máximo para evitar o vazamento de fitas do grampo judicial de pessoas ligadas à Prefeitura de Santo André, administrada pelo PT de Luiz Inácio Lula da Silva.
FHC e a PF também estão preocupados com os rumores de que agentes federais ou arapongas da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) estariam envolvidos na gravação, legal ou não, de um dirigente nacional do PT.
A ao menos dois interlocutores FHC se disse surpreendido com a informação de que a PF paulista pediu à Justiça autorização para grampear telefones em Santo André sem saber a quem os números pertenciam. Houve escuta até do prefeito João Avamileno.
Segundo a PF, o pedido de grampo se baseou em informações de "alguém que ligou anonimamente" para a polícia e forneceu números de telefone. A Justiça aceitou o pedido, de acordo com a PF, porque havia a suspeita de que "uma quadrilha de narcotraficantes teria sido contratada para executar o sequestro" do prefeito Celso Daniel, sequestrado e morto em janeiro.
A Folha apurou que o próprio presidente achou essa versão da PF inverossímil, ainda que verdadeira, e desconfiou que a polícia ou o juiz tenham sido usados por personagens que circulam no submundo da fabricação de dossiês em anos eleitorais.
Aos mesmos interlocutores, o presidente disse que não acredita que tucanos estejam por trás desses grampos e muito menos pessoas ligadas ao candidato do PSDB ao Planalto, José Serra.

Rolo compressor
Apesar dessas avaliações, FHC e o comando da campanha de Serra crêem que o caso de Santo André (acusação de esquema de propina numa administração petista), que poderia ser bom eleitoralmente para o PSDB, poderá se voltar contra os tucanos.
Ou seja, as circunstâncias do grampo de Santo André mais a confirmação de que uma denúncia feita à CPI do Narcotráfico também levou a PF a investigar Lula podem voltar a alimentar a versão do rolo compressor federal para eleger Serra ultrapassando os limites da ética.
FHC teme que o vazamento dos grampos dêem eco às acusações, sem provas, que o PFL fez em março, quando a sigla disse que a ex-governadora Roseana Sarney (MA), então pré-candidata a presidente, fora investigada para beneficiar Serra.
Roseana desistiu da candidatura por não explicar a origem de R$ 1,34 milhão apreendido pela PF em uma empresa dela e do marido, Jorge Murad. Mas acusou a PF de grampo. O episódio fez o PFL romper com FHC. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, também disse ter tido telefonemas monitorados. A PF nega.



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