São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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JANIO DE FREITAS

A novidade

Para quem ainda não sabe, é melhor avisar que os brasileiros são o povo mais politizado do mundo. Adoram partidos. Mas partidos fortes, audaciosos, dominadores.
Na maior parte do século 20, imperou o PM, Partido dos Militares. Nem sempre precisou ocupar diretamente o trono. Nesses períodos, decidia os rumos do poder político com exibições de veloz eficácia, chamadas de golpes - palavra de duplo sentido, aplicáveis, ambos, com muita propriedade ao caso.
Já o século se encaminhando para o fim, o Partido dos Militares, exaurido, foi forçado a sair de cena, mas nem a sigla se perdeu. Já na primeira eleição presidencial direta, o antigo PM era substituído pelo novo PM, que nada ficou devendo em eficiência decisiva ao antecessor. O Partido da Mídia veio para ficar: elegeu Collor, derrubou Collor, elegeu Fernando Henrique, reelegeu Fernando Henrique. O que também pode ser lido assim: derrotou Lula, derrotou Lula, derrotou Lula. Sobre o seu propósito atual será bastante dizer que Lula é candidato outra vez.
A presente disputa eleitoral traz, porém, uma novidade produzida pelo gosto brasileiro por partidos fortes. Chama-se PF. Na denominação de origem, Polícia Federal. De São Luís, lá em cima, a Santo André, cá em baixo, que a sigla recebeu novo significado: Partido dos Federais.
E assim se completou a substituição do velho PM.
O Partido da Mídia faz a onda, à maneira mesma de sua ação para criar as ilusões do Brasil Grande e da Ilha de Prosperidade, cuja versão atual são as ilusões da estabilidade e da boa administração. Assim como para o lugar do outrora "perigo de comunização" trouxeram o "perigo de argentinização".
Já o Partido dos Federais faz a outra parte: espionagem e escutas telefônicas ilegais, denúncias suspeitas e trapaças em inquéritos, invasões sem os procedimentos legais e mentiras que pretendem acobertar as ações fora da lei.
Só em um país que adore partidos fortes e à margem da ética e da lei a imprensa aceita, sem reação, o cinismo com que, em nota oficial e em explicações de um pretenso assessor de imprensa, tentaram tapeá-la e fazer com que tapeie (mais?) os leitores/espectadores. Entidades representativas de jornalistas e da mídia, onde haja consciência de cidadania, já teriam exigido afastamentos, explicações decentes e outras providências.
Não tem esse pequeno e teimoso partido chamado PT de incluir o ministro Miguel Reale Jr. em possíveis depoimentos na Câmara, e nem mesmo auxiliares por ele nomeados. Miguel Reale Jr. não autorizou, nem imaginável que as permitisse se delas soubesse, as ilegalidades de policiais federais a pretexto do assassinato de Celso Daniel. Convocado deve ser Agílio Monteiro Filho, diretor dos federais tanto ao tempo do episódio de São Luís como por ocasião das trapaças no inquérito em Santo André. Não por acaso, o ministro da Justiça também foi o mesmo nos dois casos, Aloysio Nunes Ferreira.
Ah, sim, se houver dificuldade de localizar o substituído Agílio Monteiro Filho, pode ser encontrado em Belo Horizonte, fazendo campanha para deputado e para os candidatos do PSDB ao governo mineiro e à Presidência.


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