São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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NO AR

Ser brasileiro

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Dario, o centroavante que o general presidente pediu na seleção em 1970, bradou simpaticamente que se orgulha de ser brasileiro.
Foi na Globo, minutos depois da transmissão da semifinal. Galvão Bueno entrou na sequência, aparentando certa emoção:
- Eu também me orgulho de ser brasileiro.
E emendou:
- Felipão disse, quando ganhou o jogo contra a Inglaterra: isso é para mostrar a força do brasileiro e que sirva -vou repetir as palavras do técnico- que sirva de exemplo.
E tome discurso político, da boca do narrador que monopoliza, na Globo, os jogos da seleção brasileira:
- Que não seja só a força que o brasileiro tem no futebol, não. É a força que o brasileiro tem como nação, como país, como realização. Porque tem força realmente para isso. Basta um pouquinho de ajuda de cada um...
Pequena pausa.
- E a ajuda de certas pessoas que têm o poder nisso tudo.
Até que não foi mal, a única voz do Brasil na Copa. Foi quase crítico. Mas Dario e ele, diante dos olhos do país, deram a deixa para um dia de corrida ao uso político da vitória.
FHC, em mangas de camisa, saiu pelo gramado do Palácio da Alvorada, ao lado de um Pedro Parente sem gravata, e foi aos turistas e às câmeras para distribuir elogios a Luiz Felipe Scolari, Ronaldo, Cafu, até Gilberto Silva.
Chegou a autografar, "como um craque", segundo a Cultura, a camiseta apresentada por um torcedor que avançou sobre o espelho d'água. E declarou FHC, como um jogador de futebol, no Jornal Nacional:
- Não dá para botar salto alto... Mas vamos vencer.
Foi quase um happening. Do outro lado, Duda Mendonça desta vez não dirigiu para Lula uma encenação à altura daquela que o colega Nizan Guanaes fez com FHC.
O petista acompanhou o jogo ao lado do também candidato José Genoino e de incontáveis partidários -e câmeras, claro. Depois do gol, saiu aos pulos com Genoino e fez o sinal da cruz, também ele como se fosse "um craque".
Argumentando que era "dia de futebol", recusou-se a falar das denúncias de propina. A única opinião política que tiraram dele, no Jornal da Record, foi que "Felipão recuperou os fundamentos" do futebol, mas "Malan não".
O dia só não foi de vitória dos tucanos porque José Serra, em vez de futebol, preferiu falar que "a economia está sólida".



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