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NO AR
Ser brasileiro
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Dario, o centroavante que
o general presidente pediu
na seleção em 1970, bradou simpaticamente que se orgulha de
ser brasileiro.
Foi na Globo, minutos depois
da transmissão da semifinal.
Galvão Bueno entrou na sequência, aparentando certa
emoção:
- Eu também me orgulho de
ser brasileiro.
E emendou:
- Felipão disse, quando ganhou o jogo contra a Inglaterra:
isso é para mostrar a força do
brasileiro e que sirva -vou repetir as palavras do técnico-
que sirva de exemplo.
E tome discurso político, da
boca do narrador que monopoliza, na Globo, os jogos da seleção brasileira:
- Que não seja só a força que
o brasileiro tem no futebol, não.
É a força que o brasileiro tem
como nação, como país, como
realização. Porque tem força
realmente para isso. Basta um
pouquinho de ajuda de cada
um...
Pequena pausa.
- E a ajuda de certas pessoas
que têm o poder nisso tudo.
Até que não foi mal, a única
voz do Brasil na Copa. Foi quase
crítico. Mas Dario e ele, diante
dos olhos do país, deram a deixa
para um dia de corrida ao uso
político da vitória.
FHC, em mangas de camisa,
saiu pelo gramado do Palácio
da Alvorada, ao lado de um Pedro Parente sem gravata, e foi
aos turistas e às câmeras para
distribuir elogios a Luiz Felipe
Scolari, Ronaldo, Cafu, até Gilberto Silva.
Chegou a autografar, "como
um craque", segundo a Cultura,
a camiseta apresentada por um
torcedor que avançou sobre o
espelho d'água. E declarou FHC,
como um jogador de futebol, no
Jornal Nacional:
- Não dá para botar salto alto... Mas vamos vencer.
Foi quase um happening. Do
outro lado, Duda Mendonça
desta vez não dirigiu para Lula
uma encenação à altura daquela que o colega Nizan Guanaes
fez com FHC.
O petista acompanhou o jogo
ao lado do também candidato
José Genoino e de incontáveis
partidários -e câmeras, claro.
Depois do gol, saiu aos pulos
com Genoino e fez o sinal da
cruz, também ele como se fosse
"um craque".
Argumentando que era "dia
de futebol", recusou-se a falar
das denúncias de propina. A
única opinião política que tiraram dele, no Jornal da Record,
foi que "Felipão recuperou os
fundamentos" do futebol, mas
"Malan não".
O dia só não foi de vitória dos
tucanos porque José Serra, em
vez de futebol, preferiu falar que
"a economia está sólida".
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