São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2004

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JANIO DE FREITAS

Defesa e investigação

Só para fazer uma observação, e nem um milímetro além dessa finalidade, admitamos como verdadeira a afirmação de que o ministro Luiz Gushiken só aparece na investigação sobre o conflito entre a Brasil Telecom e a Telecom Italia, ambas empresas privadas, por ter prestado assessoria, antes de chegar ao governo, a fundos de pensão associados àquelas telefônicas. Mesmo assim, pelo menos duas razões tornam incabível a ordem presidencial para que a Advocacia Geral da União providencie a defesa de Luiz Gushiken.
A AGU tem por finalidade constitucional "representar judicial e extrajudicialmente a União", não lhe cabendo ocupar-se das causas de pessoas envolvidas, como vítimas ou como réus, em casos anteriores à sua presença no governo. E como ficará a AGU se, comprometida com a defesa de Luiz Gushiken, a meio do caminho deparar indícios, senão provas, de que as atividades privadas do ministro não ficaram todas no passado e incluem ações incompatíveis com sua atual função na Presidência da República?
O risco desse tropeção existe, embora já estejamos advertidos de que os amigos de Lula são todos angelicais. A batalha de fortunas em que Luiz Gushiken se envolveu não terminou com a mudança de governo. E o entrelaçamento de uma das partes do conflito, o empresário Luiz Roberto Demarco, com Luiz Gushiken e com o PT deveria levar, não a defesa pela AGU, mas as investigações até mesmo de finanças partidárias e eleitorais, em paralelo a outras de ordem pessoal. Ah, sim, e investigações relativas também ao uso do poder financeiro, avassalador e opaco, dos fundos de pensão das estatais.
Tráfico de influência é o que aflora da mixórdia, ou de sua parte até agora perceptível, de atividades e interesses que entrelaçam Luiz Gushiken, Luiz Roberto Demarco, finanças petistas, Cássio Casseb (presidente atual do Banco do Brasil) e o conflito entre as duas Telecom.
A história suscitada pelas investigações da Kroll Associates está apenas no começo. Até onde irá não é, conhecidos os padrões brasileiros, ir até onde deveria. Mas, ainda assim, promete.


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