São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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Genoino reagiu ao ser preso na guerrilha, diz mateiro

Depoimento contradiz versão de que petista se entregou a militares no Araguaia

Basílio Constâncio Silva, 82, que participa da missão que busca ossadas, afirma que deputado entregou armas por imaginar que seria solto


PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO GERALDO DO ARAGUAIA

Uma nova testemunha surgiu para confirmar uma história que até então tinha apenas um relato independente, as primeiras 24 horas da prisão do hoje deputado federal José Genoino (PT-SP) na guerrilha do Araguaia (1972-75).
O mateiro Basílio Constâncio Silva, 82, diz que fazia parte do grupo que prendeu "Geraldo", codinome de Genoino, e relata detalhes de sua prisão.
Silva afirma que estava num grupo de oito pessoas, comandado pelo então delegado de Xambioá, Carlos Marra, quando encontraram Genoino nas matas do Araguaia, entre as 7h e as 8h, em abril de 1972.
"Ele estava com um chapéu de couro, bermuda e uma capanguinha [bolsa]. Eu enxerguei ele e falei: lá vem um dos homens da mata", diz o mateiro. "O Marra mandou ele entregar as armas, ele deu a peixeira, um revólver e um facão."
Quando entendeu que ia ser preso, Genoino reagiu e chamou o grupo de "tropa de covardes", dizendo que teria lutado "até com um faquinha", diz o mateiro. Até então, ele não havia sido identificado como um dos guerrilheiros, o que explica ter pensado que seria liberado.
Na caminhada até a base onde seria entregue ao Exército, ainda tentou correr. Marra gritou que parasse ou abriria fogo. "Pode atirar", teria dito Genoino. Os mateiros atiraram, "Geraldo" foi atingido de raspão no braço e tropeçou em uma moita. Foi recapturado.
Genoino chegou a ser acusado por um militar da reserva de ter se entregado e delatado os ex-companheiros.
Na base, Genoino passou o tempo todo algemado. "Eu dava café e almoço na boca dele. Será que ele lembra do Basílio, do neguinho que alimentava ele?", disse o mateiro. No dia seguinte, "Geraldo" foi levado de helicóptero para Xambioá.
A Folha falou com Genoino, que confirmou o relato, mas não se lembrou do mateiro. "Lembro do Marra, que conhecia bem de Xambioá", disse.
A história é narrada, com variações, no livro "O Nome da Morte", de Kléster Cavalcanti, sobre a prisão do deputado.


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