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Genoino reagiu ao ser preso na guerrilha, diz mateiro
Depoimento contradiz versão de que petista se entregou a militares no Araguaia
Basílio Constâncio Silva, 82, que participa da missão que
busca ossadas, afirma que deputado entregou armas por imaginar que seria solto
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO GERALDO DO ARAGUAIA
Uma nova testemunha surgiu para confirmar uma história que até então tinha apenas
um relato independente, as primeiras 24 horas da prisão do
hoje deputado federal José Genoino (PT-SP) na guerrilha do
Araguaia (1972-75).
O mateiro Basílio Constâncio
Silva, 82, diz que fazia parte do
grupo que prendeu "Geraldo",
codinome de Genoino, e relata
detalhes de sua prisão.
Silva afirma que estava num
grupo de oito pessoas, comandado pelo então delegado de
Xambioá, Carlos Marra, quando encontraram Genoino nas
matas do Araguaia, entre as 7h
e as 8h, em abril de 1972.
"Ele estava com um chapéu
de couro, bermuda e uma capanguinha [bolsa]. Eu enxerguei ele e falei: lá vem um dos
homens da mata", diz o mateiro. "O Marra mandou ele entregar as armas, ele deu a peixeira,
um revólver e um facão."
Quando entendeu que ia ser
preso, Genoino reagiu e chamou o grupo de "tropa de covardes", dizendo que teria lutado "até com um faquinha", diz o
mateiro. Até então, ele não havia sido identificado como um
dos guerrilheiros, o que explica
ter pensado que seria liberado.
Na caminhada até a base onde seria entregue ao Exército,
ainda tentou correr. Marra gritou que parasse ou abriria fogo.
"Pode atirar", teria dito Genoino. Os mateiros atiraram, "Geraldo" foi atingido de raspão no
braço e tropeçou em uma moita. Foi recapturado.
Genoino chegou a ser acusado por um militar da reserva de
ter se entregado e delatado os
ex-companheiros.
Na base, Genoino passou o
tempo todo algemado. "Eu dava café e almoço na boca dele.
Será que ele lembra do Basílio,
do neguinho que alimentava
ele?", disse o mateiro. No dia
seguinte, "Geraldo" foi levado
de helicóptero para Xambioá.
A Folha falou com Genoino,
que confirmou o relato, mas
não se lembrou do mateiro.
"Lembro do Marra, que conhecia bem de Xambioá", disse.
A história é narrada, com variações, no livro "O Nome da
Morte", de Kléster Cavalcanti,
sobre a prisão do deputado.
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