São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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BC SOB PRESSÃO

Presidente julga acusação um 'absurdo'; Palocci defende executivo

Lula reafirma seu apoio a Meirelles

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em nova demonstração de apoio ao presidente do BC (Banco Central), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem com contrariedade ao surgimento de mais uma suspeita de ilegalidade relacionada a Henrique Meirelles.
Usando as palavras "absurdo" e "bobagem", Lula discutiu ontem na reunião de coordenação de governo (grupo dos principais ministros e auxiliares do Palácio do Planalto) a investigação do Ministério Público do Trabalho de Goiás sobre acordos trabalhistas do BankBoston relativos a serviços de segurança prestados a Meirelles na campanha eleitoral de 2002. Naquele ano, Meirelles se elegeu deputado federal pelo PSDB, com 183.046 votos (foi o mais votado no Estado).
Seguranças do BankBoston, benefício ao qual Meirelles tinha direito devido a um acordo com o banco, do qual foi o presidente mundial, prestaram serviço em sua campanha. O Ministério Público do Trabalho suspeita que houve doação ilegal de recursos. Para assumir a presidência do Banco Central, Meirelles se desligou do PSDB e renunciou ao seu mandato de deputado federal.

Acusação improcedente
Para Lula, a acusação contra o presidente do BC é improcedente. O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que falou diretamente com Meirelles em todas as outras vezes em que reportagens questionaram a lisura do presidente do BC, ouviu novamente explicações. E as julgou satisfatórias.
Ontem, na reunião, predominou a avaliação de que a nova suspeita não deve levar o governo a afrouxar a defesa que vem fazendo do presidente do Banco Central. Mais: só reforçou a convicção de que foi correta do ponto de vista de ação de governo, apesar do desgaste, a medida provisória que concedeu a Henrique Meirelles status de ministro de Estado.
Essa medida provisória tem o objetivo de dar ao presidente do BC foro privilegiado ou especial -responder a processos judiciais apenas no Supremo Tribunal Federal e ser denunciado apenas pelo procurador-geral da República. Ou seja, blindá-lo contra eventuais denúncias do Ministério Público e decisões judiciais de primeira e segunda instâncias.

Blindagem
A "blindagem" de Meirelles foi decidida cerca de seis meses atrás. Palocci esqueceu o assunto. Em meados de julho, uma série de reportagens apontaram suspeitas de sonegação fiscal e irregularidades na gestão do patrimônio de Meirelles. Assustado, o presidente do BC cobrou a "blindagem".
Lula autorizou, mas preferiu aguardar a passagem do bombardeio. Decepcionado, Meirelles se abalou emocionalmente.
Mas, no último dia 12, quinta-feira, uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público para apreender documentos na Caixa Econômica Federal assustou Meirelles. No dia seguinte, ele disse ao ministro da Fazenda: "[O Ministério Público e a Polícia Federal] vão fazer isso no Banco Central. Imagine a repercussão".
Palocci, então, voltou a falar com Lula e arrancou a autorização para a "blindagem" imediata. Pensou-se até em dar a Meirelles o cargo de ministro extraordinário da Estabilidade da Moeda. Mas essa solução pareceu casuística e folclórica demais.
Por aconselhamento do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), o governo optou pela edição da medida provisória que lhe deu status de ministro ao presidente do BC. (KENNEDY ALENCAR)


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