São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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Acordo trouxe "dinheiro fácil", diz PM

ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA

Dinheiro fácil. Essa foi a explicação de pelo menos dois de um conjunto de cinco policiais militares que ajuizaram ações trabalhistas de até R$ 575 mil contra o BankBoston. Reclamavam direitos legais (horas extras, entre outros) por serviços prestados na equipe da segurança pessoal do hoje presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Gileno Euzébio da Silva e Rorion Alves Martins -que recebem R$ 1.600 líquidos como sargentos da Polícia Militar e disseram à Folha que ganhavam do BankBoston R$ 4.500 mensais- obtiveram, descontados Imposto de Renda, Previdência Social e honorários advocatícios, R$ 100 mil e R$ 50 mil de uma só vez, respectivamente, no acordo trabalhista com o banco.
As sucessivas ações ajuizadas por um mesmo escritório de advocacia, em valores elevados e com acordos firmados com o BankBoston, levaram o Ministério Público do Trabalho a apontar a existência de indícios de que os processos eram para camuflar contribuições do banco à campanha vitoriosa de Meirelles à Câmara em 2002, pelo PSDB.
Meirelles e o BankBoston negam e dizem que a segurança era prevista em contrato, válido por dois anos após a saída do banco.
O caso foi encaminhado ao Ministério Público Federal, que deverá apurar se houve abuso de poder de Meirelles, com suposto uso de contribuições do BankBoston não declaradas à Justiça Eleitoral.
Como a maioria das ações de 2003 tem PMs como autores, o relatório da Procuradoria também foi encaminhado ao Ministério Público Estadual e à Corregedoria de Polícia, responsáveis por averiguar a existência de irregularidades na conduta dos servidores, proibidos por lei de prestar serviços paralelos às suas funções.
Com o dinheiro recebido, o sargento Silva construiu uma casa nova e deu um carro para a mulher. Martins quitou um imóvel e comprou um carro do ano. Com os colegas, ambos enfrentarão sindicância, instaurada no último dia 23 pela Gerência de Correições e Disciplina da PM de Goiás.
Responsável pelo órgão, o coronel Deovanir Frazão aceita o "bico" dos policiais, desde que não tenha ocorrido em horário de trabalho. Seu superior, o corregedor-geral de polícia, Eurípedes da Silva, condena a prática -policial não pode ter atividades extras.
Carlos Massis, também um ex-integrante da equipe de segurança de Meirelles, é testemunha em processos trabalhistas contra o BankBoston e autor de uma ação na qual pretende ganhar mais de R$ 300 mil. Massis disse à Folha que, nas viagens de Meirelles pelo Brasil, era comum o recrutamento de policiais.


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