|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANISTIA
Anita Leocádia vai destinar os R$ 100 mil que receberá da Comissão de Anistia da Justiça ao Instituto Nacional do Câncer
Filha de Prestes e Olga doará indenização
DA SUCURSAL DO RIO
A filha dos militantes comunistas Luís Carlos Prestes e Olga Benário, Anita Leocádia Benário
Prestes, divulgou ontem nota em
que diz que, por "discordar dos
critérios adotados pela Lei da
Anistia atualmente em vigor",
doará a indenização de R$ 100 mil
que receberá da Comissão de
Anistia do Ministério da Justiça
ao Instituto Nacional de Câncer.
A comissão concedeu na segunda-feira uma reparação de R$ 100
mil a Anita pelo fato de ela ter sido
perseguida, de 1973 a 1979, pela
ditadura militar.
A filha de Olga e Prestes afirma
que seu único objetivo ao pedir a
reparação era garantir que o tempo em que não pôde trabalhar por
causa de perseguição política conte para efeito de cálculo de sua
aposentadoria. "Não estou querendo receber dinheiro. O que
importa para mim é a contagem
do tempo de serviço", afirmou.
Ela é professora de história da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), fará 68 anos neste
ano e se aposentará daqui a dois,
ao completar 70 anos.
"Não tem cabimento eu receber
dinheiro do governo. Sou uma
pessoa que trabalha, e há outros
anistiados que precisam mais do
que eu ser contemplados. Quando assumi determinadas posições
políticas, sabia das conseqüências. Isso não se paga com dinheiro, pelo menos no meu caso. Mas
não quero julgar ninguém", disse
Anita ontem.
Em carta enviada à Folha, ela
disse também que "graves injustiças são cometidas tanto em relação ao grande número de anistiados políticos quanto em relação à
maioria do povo brasileiro, cuja
situação de miséria é bem conhecida de todos".
Segundo Anita, a Lei da Anistia
não permite que ela peça reparação apenas da contagem do tempo de serviço, sem pedir indenização nenhuma em dinheiro. Ela
afirma, no entanto, que há pessoas que merecem reparação: "A
lei é importante. Há pessoas que
foram torturadas, ficaram em situação terrível e estão recebendo
muito pouco".
Anita foi indiciada em 1972 por
subversão em um Inquérito Policial Militar e julgada no ano seguinte, sem estar presente ao julgamento. A pena foi de quatro
anos e seis meses de reclusão, mas
ela não a cumpriu, porque se exilou na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
"Não pude trabalhar a partir de
1964, até por causa do meu nome,
que era sempre recusado onde eu
procurava emprego", disse.
A indenização de Anita diz respeito ao período da ditadura militar (1964-1985), mas sua história
voltou a ser lembrada neste ano
com o lançamento do filme "Olga", de Jayme Monjardim, que
conta a história de sua mãe.
Anita nasceu em 1936, na prisão
de Barnimstrasse, na Alemanha.
Sua mãe, Olga, era judia e comunista e foi extraditada para a Alemanha nazista em 1936, quando
Getúlio Vargas era presidente do
Brasil, e morreu na prisão.
Texto Anterior: Genoino chama Cristovam para aparar arestas Próximo Texto: "Ninguém pode repor as mortes", afirma Lavenére Índice
|