São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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ANISTIA

Anita Leocádia vai destinar os R$ 100 mil que receberá da Comissão de Anistia da Justiça ao Instituto Nacional do Câncer

Filha de Prestes e Olga doará indenização

DA SUCURSAL DO RIO

A filha dos militantes comunistas Luís Carlos Prestes e Olga Benário, Anita Leocádia Benário Prestes, divulgou ontem nota em que diz que, por "discordar dos critérios adotados pela Lei da Anistia atualmente em vigor", doará a indenização de R$ 100 mil que receberá da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça ao Instituto Nacional de Câncer.
A comissão concedeu na segunda-feira uma reparação de R$ 100 mil a Anita pelo fato de ela ter sido perseguida, de 1973 a 1979, pela ditadura militar.
A filha de Olga e Prestes afirma que seu único objetivo ao pedir a reparação era garantir que o tempo em que não pôde trabalhar por causa de perseguição política conte para efeito de cálculo de sua aposentadoria. "Não estou querendo receber dinheiro. O que importa para mim é a contagem do tempo de serviço", afirmou.
Ela é professora de história da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), fará 68 anos neste ano e se aposentará daqui a dois, ao completar 70 anos.
"Não tem cabimento eu receber dinheiro do governo. Sou uma pessoa que trabalha, e há outros anistiados que precisam mais do que eu ser contemplados. Quando assumi determinadas posições políticas, sabia das conseqüências. Isso não se paga com dinheiro, pelo menos no meu caso. Mas não quero julgar ninguém", disse Anita ontem.
Em carta enviada à Folha, ela disse também que "graves injustiças são cometidas tanto em relação ao grande número de anistiados políticos quanto em relação à maioria do povo brasileiro, cuja situação de miséria é bem conhecida de todos".
Segundo Anita, a Lei da Anistia não permite que ela peça reparação apenas da contagem do tempo de serviço, sem pedir indenização nenhuma em dinheiro. Ela afirma, no entanto, que há pessoas que merecem reparação: "A lei é importante. Há pessoas que foram torturadas, ficaram em situação terrível e estão recebendo muito pouco".
Anita foi indiciada em 1972 por subversão em um Inquérito Policial Militar e julgada no ano seguinte, sem estar presente ao julgamento. A pena foi de quatro anos e seis meses de reclusão, mas ela não a cumpriu, porque se exilou na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
"Não pude trabalhar a partir de 1964, até por causa do meu nome, que era sempre recusado onde eu procurava emprego", disse.
A indenização de Anita diz respeito ao período da ditadura militar (1964-1985), mas sua história voltou a ser lembrada neste ano com o lançamento do filme "Olga", de Jayme Monjardim, que conta a história de sua mãe.
Anita nasceu em 1936, na prisão de Barnimstrasse, na Alemanha. Sua mãe, Olga, era judia e comunista e foi extraditada para a Alemanha nazista em 1936, quando Getúlio Vargas era presidente do Brasil, e morreu na prisão.


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