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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Conta de tesoureiro de Lula criou suspeita
José de Filippi movimentou R$ 140 mil sem origem, em 2004; campanha à Prefeitura de Diadema ainda tem dívida de R$ 135 mil
Petista justificou dinheiro
como empréstimos feitos
durante a campanha e já
quitados, mas não revelou
nome de quem emprestou
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O tesoureiro da campanha do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, o prefeito licenciado de
Diadema (SP), José de Filippi
Júnior, 49, movimentou na
conta bancária de sua campanha à reeleição em 2004 pelo
menos R$ 139,8 mil sem origem, segundo detectou análise
técnica da Justiça Eleitoral.
A campanha de Filippi também narrou um "extravio" de
46 recibos eleitorais e deixou
uma dívida de R$ 135 mil que
vem sendo rolada há dois anos,
sem pagamento.
Indagado pela Justiça Eleitoral sobre a ausência de recibos
que justificassem a entrada do
dinheiro sem origem, a assessoria jurídica da campanha informou em ofício que se trataram de empréstimos que teriam sido pagos durante a disputa -mas não apresentou documentos nem indicou nomes
das pessoas ou empresas que
teriam emprestado o dinheiro.
Com base nessa carta de duas
páginas, a Justiça Eleitoral decidiu relevar as dúvidas sobre
as contas de Filippi e mandou
arquivar o processo. Tudo
ocorreu no mesmo dia, 10 de
dezembro de 2004 -data do
ofício do PT e da decisão da
Justiça, com a anuência do Ministério Público.
Procurado pela Folha, o tesoureiro de Lula informou, por
meio de sua assessoria, que as
respostas seriam dadas pelo
então presidente do PT de Diadema, o deputado estadual Mário Reali, ex-chefe-de-gabinete
de Filippi em seu mandato como deputado na Assembléia
Legislativa (1999-2000).
Procurado, o deputado não
concedeu entrevista e deixou
de informar, por meio de sua
assessoria, de quem a campanha de Filippi teria tomado os
empréstimos em 2004 e por
que a campanha resolveu depositar os recursos na mesma
conta bancária usada para
campanha eleitoral (leia texto
nesta página).
O perito judicial Antônio
Carlos Iório assinou o "relatório de irregularidades" no dia 6
de dezembro de 2004.
"Em desacordo com a determinação dos artigos 20 e 34 da
resolução 21.609, não houve a
emissão de recibo eleitoral pelo
candidato [Filippi] quando da
arrecadação da importância de
R$ 139.890,00, transitados em
conta corrente sem lançamentos na Ficha Demonstração dos
Recursos Arrecadados ou a
emissão dos recibos eleitorais",
escreveu o analista.
A promotora Sandra Lourdes Alves pediu esclarecimentos ao PT no dia 9 de dezembro.
Um dia depois, o advogado
Francivaldo Rodrigues enviou
uma carta para dizer que o dinheiro "constitui em empréstimos financeiros tomados ao
longo da campanha pelo candidato José de Filippi e devidamente quitados".
O perito da Justiça Eleitoral
também apontou que os recibos eleitorais não utilizados,
com exceção de 16, "foram declarados extraviados pelo candidato, portanto não devolvidos na prestação de contas".
O suposto extravio dos recibos foi informado pelos dirigentes do PT ao 1º Distrito Policial de Diadema em 25 de novembro, dias antes da entrega
da prestação de contas. Os petistas não apontaram onde ou
com quem estavam os recibos
cuja falta foi sentida.
Dívida
A campanha de Filippi fechou com buraco de R$ 135 mil.
Arrecadou R$ 1,36 milhão do
R$ 1,5 milhão projetado e gastou R$ 1,49 milhão.
No mesmo ano, as dívidas foram assumidas pelo diretório
municipal do PT de Diadema.
Desde então, vêm sendo roladas nos balanços do partido,
sem abatimento ou correção.
Os principais credores são os
cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano (R$ 67 mil) e
Leonardo (R$ 30,6 mil). Localizado na noite da última sexta-feira, o empresário da dupla,
Romel Marques, disse ser necessário checar os documentos
para confirmar a dívida e se ela
está sendo negociada com o PT
de Diadema, o que não conseguiria fazer naquele horário.
Filippi fez campanha cara
para os padrões de São Paulo.
Segundo dados da ONG Transparência Brasil, ele gastou
R$ 12,22 por cada voto recebido. A média dos 646 prefeitos
eleitos no Estado foi de R$ 8,02.
Os maiores doadores a Filippi foram a Petroquímica União
(R$ 320 mil), o PT paulista
(R$ 230 mil), a União das Indústrias Petroquímicas
(R$ 220 mil), as Casas Bahia e a
Papaiz (R$ 50 mil cada uma).
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