São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Conta de tesoureiro de Lula criou suspeita

José de Filippi movimentou R$ 140 mil sem origem, em 2004; campanha à Prefeitura de Diadema ainda tem dívida de R$ 135 mil

Petista justificou dinheiro como empréstimos feitos durante a campanha e já quitados, mas não revelou nome de quem emprestou

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O tesoureiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito licenciado de Diadema (SP), José de Filippi Júnior, 49, movimentou na conta bancária de sua campanha à reeleição em 2004 pelo menos R$ 139,8 mil sem origem, segundo detectou análise técnica da Justiça Eleitoral.
A campanha de Filippi também narrou um "extravio" de 46 recibos eleitorais e deixou uma dívida de R$ 135 mil que vem sendo rolada há dois anos, sem pagamento.
Indagado pela Justiça Eleitoral sobre a ausência de recibos que justificassem a entrada do dinheiro sem origem, a assessoria jurídica da campanha informou em ofício que se trataram de empréstimos que teriam sido pagos durante a disputa -mas não apresentou documentos nem indicou nomes das pessoas ou empresas que teriam emprestado o dinheiro.
Com base nessa carta de duas páginas, a Justiça Eleitoral decidiu relevar as dúvidas sobre as contas de Filippi e mandou arquivar o processo. Tudo ocorreu no mesmo dia, 10 de dezembro de 2004 -data do ofício do PT e da decisão da Justiça, com a anuência do Ministério Público.
Procurado pela Folha, o tesoureiro de Lula informou, por meio de sua assessoria, que as respostas seriam dadas pelo então presidente do PT de Diadema, o deputado estadual Mário Reali, ex-chefe-de-gabinete de Filippi em seu mandato como deputado na Assembléia Legislativa (1999-2000).
Procurado, o deputado não concedeu entrevista e deixou de informar, por meio de sua assessoria, de quem a campanha de Filippi teria tomado os empréstimos em 2004 e por que a campanha resolveu depositar os recursos na mesma conta bancária usada para campanha eleitoral (leia texto nesta página).
O perito judicial Antônio Carlos Iório assinou o "relatório de irregularidades" no dia 6 de dezembro de 2004.
"Em desacordo com a determinação dos artigos 20 e 34 da resolução 21.609, não houve a emissão de recibo eleitoral pelo candidato [Filippi] quando da arrecadação da importância de R$ 139.890,00, transitados em conta corrente sem lançamentos na Ficha Demonstração dos Recursos Arrecadados ou a emissão dos recibos eleitorais", escreveu o analista.
A promotora Sandra Lourdes Alves pediu esclarecimentos ao PT no dia 9 de dezembro. Um dia depois, o advogado Francivaldo Rodrigues enviou uma carta para dizer que o dinheiro "constitui em empréstimos financeiros tomados ao longo da campanha pelo candidato José de Filippi e devidamente quitados".
O perito da Justiça Eleitoral também apontou que os recibos eleitorais não utilizados, com exceção de 16, "foram declarados extraviados pelo candidato, portanto não devolvidos na prestação de contas".
O suposto extravio dos recibos foi informado pelos dirigentes do PT ao 1º Distrito Policial de Diadema em 25 de novembro, dias antes da entrega da prestação de contas. Os petistas não apontaram onde ou com quem estavam os recibos cuja falta foi sentida.

Dívida
A campanha de Filippi fechou com buraco de R$ 135 mil. Arrecadou R$ 1,36 milhão do R$ 1,5 milhão projetado e gastou R$ 1,49 milhão.
No mesmo ano, as dívidas foram assumidas pelo diretório municipal do PT de Diadema. Desde então, vêm sendo roladas nos balanços do partido, sem abatimento ou correção.
Os principais credores são os cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano (R$ 67 mil) e Leonardo (R$ 30,6 mil). Localizado na noite da última sexta-feira, o empresário da dupla, Romel Marques, disse ser necessário checar os documentos para confirmar a dívida e se ela está sendo negociada com o PT de Diadema, o que não conseguiria fazer naquele horário.
Filippi fez campanha cara para os padrões de São Paulo. Segundo dados da ONG Transparência Brasil, ele gastou R$ 12,22 por cada voto recebido. A média dos 646 prefeitos eleitos no Estado foi de R$ 8,02.
Os maiores doadores a Filippi foram a Petroquímica União (R$ 320 mil), o PT paulista (R$ 230 mil), a União das Indústrias Petroquímicas (R$ 220 mil), as Casas Bahia e a Papaiz (R$ 50 mil cada uma).


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