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Governo quer acabar com
"sigilo eterno" de arquivos
País terá centro de documentação sobre a ditadura
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende editar em
outubro um decreto ou uma
medida provisória para acabar
com o chamado "sigilo eterno",
possibilidade de manter em segredo indefinidamente documentos considerados ultra-secretos. Nessa decisão, deverá
também abrir os arquivos oficiais do período da ditadura militar (1964-1985).
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil), ex-guerrilheira
que foi presa e torturada, está
encarregada de dar o formato
final a essas medidas.
Segundo a Folha apurou,
Dilma anunciará em setembro
a criação de centro de documentação a respeito da repressão na ditadura militar. Nesse
caso, são arquivos em poder
dos Estados que comporão um
acervo maior.
A abertura de arquivos da ditadura, o fim do "sigilo eterno"
e o centro de documentação
sobre a repressão política compõem um "pacote de direitos
humanos" que Lula deseja implementar agora, por avaliar
que fez pouco nessa área no no
primeiro mandato.
Esse pacote começa a ser
lançado depois de amanhã,
com a divulgação pelo presidente do livro "Direito à Memória e à Verdade", primeiro
documento do governo federal
que acusa governos militares
de atos cruéis contra opositores, como estupro, ocultação de
cadáver, decapitação, tortura,
esquartejamento e execução.
Em dezembro de 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso alterou a legislação sobre acesso público a documentos oficiais e ampliou
para 50 anos o prazo de divulgação de documentos ultra-secretos e oficializou o "sigilo
eterno", que possibilitava uma
comissão interministerial a renovar o prazo de confidencialidade sem restrição de tempo.
No primeiro mandato, Lula
alterou a lei. Reduziu o prazo
de ultra-secreto para 30 anos.
Previu renovação por mais 30.
Mas manteve a possibilidade
de que, antes de esses 60 anos
acabarem, uma comissão interministerial mantivesse em sigilo documentos que ameaçassem "a soberania, a integridade
territorial nacional ou as relações internacionais do país".
A Folha apurou que há intenso debate agora no governo
a respeito dessa proibição. Como revelou o jornal em dezembro de 2004, o Itamaraty quer
manter em segredo documentos que se referem à demarcação de fronteiras ao final da
Guerra do Paraguai (1864-1870). O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) continua a querer manter o veto.
Mas Lula e Dilma avaliam
que mesmo esses documentos
deverão se tornar públicos.
Cogita-se, no máximo, 50 anos.
(KENNEDY ALENCAR)
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