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Se Palocci se livrar, denúncia vai para 1ª instância
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se confirmar a tendência de
arquivar a denúncia contra o
ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci pela quebra de sigilo bancário de Francenildo
Costa, o Supremo Tribunal Federal deverá remeter o caso à
primeira instância da Justiça.
A denúncia também envolve
o jornalista Marcelo Netto e o
ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.
Eles não têm foro no Supremo
e são processados neste tribunal por causa de Palocci, que
hoje é deputado federal. Se o
ex-ministro for absolvido, não
há motivos para que os dois virem réus e continuem a responder pelo caso no STF.
O possível arquivamento da
denúncia contra Palocci não
deve livrar Netto e Mattoso. Os
indícios contra os dois, segundo entendimento de ministros
e assessores do Supremo, são
mais "fortes" do que aqueles
contra o deputado petista.
O ex-presidente da Caixa,
por exemplo, disse que acessou
as informações bancárias de
Francenildo e que as mostrou
para Palocci. Ele alega, porém,
que não houve quebra de sigilo,
já que era seu papel, ao perceber uma movimentação atípica
em uma das contas bancárias
do banco, avisar a seu chefe.
Em defesa prévia enviada ao
STF, Mattoso diz que não pode
ser condenado por ter entregue
extrato de "correntista do banco única e exclusivamente ao
seu superior hierárquico, o então ministro da Fazenda".
Já contra Netto pesa o fato de
que, em quebra de sigilo telefônico dos aparelhos do Ministério da Fazenda, foram encontrados seis telefonemas entre o
gabinete da imprensa do órgão
e a Sucursal de Brasília da revista "Época".
Também em documento enviado ao tribunal, os advogados
do jornalista afirmam que a denúncia contra ele é fruto de um
"raciocínio dedutivo, concluindo, erroneamente, que o requerente teria sido o responsável
pela entrega dos documentos
bancários" à imprensa. Também diz que ele tomou "conhecimento dos dados bancários
do caseiro em momento posterior à consumação do crime".
A denúncia do então procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, foi enviada ao STF em março de
2007. A tendência do Supremo
até ontem era a de que não houvesse abertura de ação penal
contra Palocci.
Ministros ouvidos pela Folha disseram, no entanto, que
ainda existem dúvidas que só
serão esclarecidas com o voto
do relator, Gilmar Mendes. Outros dizem ter convicção de que
existem indícios suficientes para que seja aberta a ação penal.
Eles deverão analisar duas
questões iniciais: 1) houve a
prática de crime? E, em caso
positivo, 2) há o chamado "nexo causal", ou seja, indícios mínimos do envolvimento de Palocci na prática desse crime?
No primeiro ponto não há
dúvidas para os ministros: a
resposta é sim. Sobre o segundo, a denúncia da Procuradoria
diz que Palocci tinha interesses
na divulgação dos dados para
desqualificar Francenildo.
Os ministros, porém, devem
afirmar que o fato de Palocci
ser o responsável pela pasta e
ter interesse naquela divulgação não o faz culpado, sendo
necessária a existência de provas concretas.
No caso de Netto e Mattoso,
se a denúncia for para a primeira instância, eles poderão fazer
acordo com o Ministério Público para suspender o processo.
Se aceitarem, deverão fazer palestras em escolas e doar papel
para a leitura de cegos.
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