São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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PROTESTO
Sem fazer avaliação política, presidente fará lançamento do plano de investimentos na próxima 3ª
FHC prepara "contra-ataque" à marcha

AUGUSTO GAZIR
WILSON SILVEIRA
da Sucursal de Brasília


O presidente Fernando Henrique Cardoso recusou-se ontem a fazer uma avaliação política da "Marcha dos 100 Mil", por intermédio de seu porta-voz, Georges Lamazière, mas espera transformar a próxima terça-feira no dia do contra-ataque à manifestação.
"O presidente considera que o que ele tinha a dizer (sobre a manifestação) já foi dito", afirmou Lamazière.
Na terça o governo lança o plano plurianual, já chamado por FHC de "plano de desenvolvimento", com projetos de investimento para os próximos quatro anos, que somam US$ 165 bilhões.
Embora dependam, em grande parte, da disposição da iniciativa privada para sair do papel, os projetos serão apresentados como prova de que o governo não está parado. O plano tem de chegar ao Congresso até o fim de agosto.
Assessores de FHC menosprezaram a marcha por não alcançar, segundo eles, o número anunciado de 100 mil manifestantes. Segundo o porta-voz, a única informação que o Planalto recebeu sobre o número de participantes foi de 40 mil, divulgado pela Secretaria de Segurança Pública.
"O importante não são esses números. O importante para o presidente é que a manifestação transcorreu sem incidentes, que a população não alterou sua rotina e que a cidade funcionou normalmente", disse Lamazière.
"A manifestação, que é uma coisa normal na democracia, ocorreu dentro da lei e da ordem."
De acordo com o ministro Sarney Filho (Meio Ambiente), que esteve com FHC antes do almoço, o presidente achou que veio menos gente do que era esperado. "O protesto teve o fator positivo de unir a base governista. O presidente concordou."
O presidente encheu sua agenda ontem no Palácio do Planalto, procurando cercar-se de ministros e parlamentares aliados.
A ida do presidente ao Planalto pela manhã não teria sido, conforme se especulou, para sinalizar aos manifestantes que ele estava a postos. Segundo assessores, deveu-se ao fato de estar recebendo a bancada de Pernambuco no Congresso, um número de pessoas grande demais para ser recebido no Alvorada.
FHC foi almoçar no Alvorada e retornou. Acompanhou a marcha pelos serviços dos jornais na Internet e pela TV.
Cerca de mil policiais militares isolaram a praça dos Três Poderes, onde fica o Planalto.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), esteve com FHC à tarde e passou ao presidente sua avaliação do ato. Ele disse que considerou a marcha um fracasso.
Pela manhã, quando conversava com parlamentares pernambucanos, o presidente recebeu telefonema de seu colega uruguaio, Julio María Sanguinetti. O presidente do Uruguai se disse preocupado, segundo deputados, pois tudo que acontece no Brasil acaba se repetindo no país vizinho.
FHC conversou durante o dia com o general Alberto Cardoso (Casa Militar) sobre a segurança na marcha.

TSE
O PSDB, partido de FHC, teve uma vitória contra o PT ontem no TSE (Tribunal Superior Eleitoral.
O tribunal desautorizou a participação do PT em propagandas pagas em emissoras de rádio e televisão, como a veiculada nos últimos dias em Brasília para divulgar a "Marcha dos 100 Mil".
O presidente do PT, José Dirceu, foi notificado pelo TSE para que o partido "se abstenha de realizar propaganda paga", porque considerou que a legislação só permite a veiculação de publicidade partidária gratuita.
A notificação foi feita a pedido do PSDB, mas ela não teve efeito prático porque os anúncios já haviam sido veiculados.


Colaborou Carlos Eduardo Lins da Silva, da Sucursal de Brasília

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