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ALTOS E BAIXOS
Economia parada derruba popularidade que cresceu no Real
Cinco anos depois, presidente vê "o outro lado da moeda"
da Redação
A "Marcha dos 100 Mil", que
tinha como um dos objetivos a
crítica à política econômica do
governo, chegou a Brasília dois
dias depois do anúncio de que,
em 1998, houve um recuo de
0,12% no PIB (a soma de bens e
serviços produzidos pelo país
em um ano).
Um dos motivos da atual insatisfação com o presidente Fernando Henrique Cardoso, traduzida pela sua queda de popularidade, está também na sensação de que, antes, "o país andava" -e para a frente.
O resultado do Produto Interno Bruto no ano passado, a primeira queda na renda desde
1992, sugere que essa observação não está equivocada.
Com o Plano Real, o crescimento da economia ajudou a
elevar a popularidade do então
presidente Itamar Franco a
40%, um nível que FHC superou e manteve até despencar para os atuais 16%. Essa queda expressiva, porém, não é uma exclusividade do atual presidente.
Em 1986, ano do Plano Cruzado, o então presidente José Sarney chegou a 27% de aprovação.
Na época, havia o "fiscal do Sarney", personagem que significava o apoio ao congelamento de
preços. Quando o plano falhou
de vez, no ano seguinte, a economia estagnou e a hiperinflação virou ameaça. A popularidade do hoje senador desabou.
Antes de assumir, Fernando
Collor tinha 71% de aprovação,
mas o confisco de dinheiro feito
em março de 1990 reduziu a sua
popularidade à metade.
O índice diminuiu ainda mais
com o escândalo do esquema
PC Farias, que levou ao afastamento de Collor da política
-poderá voltar só no ano que
vem-, e com o enfraquecimento da economia.
Em meio a esses solavancos, o
país cresceu 35,6% desde 1986, a
maior parte após o Plano Real.
Se confirmada a previsão de um
recuo de 1% no PIB deste ano, o
crescimento acumulado será de
34,3% em 14 anos.
Em entrevista recente, ao falar
do atual desempenho da economia, FHC disse, revisionista,
que talvez tivesse sido melhor
ter alterado a política cambial
antes de janeiro passado.
O Plano Real teve como uma
de suas âncoras a taxa de câmbio. Por meio dela, a moeda brasileira se valorizou em relação
ao dólar, em uma estratégia para facilitar importações, criar
concorrência entre produtos
nacionais e estrangeiros e inibir
os aumentos de preços no país.
O mecanismo funcionou. A
inflação caiu, mas outros problemas da economia brasileira,
como o déficit público -cuja
solução implica desgaste político-, não foram resolvidos.
Quando crises internacionais
afetaram o país, o governo sustentou a política cambial, à custa de juros altos, aumento de
impostos e propostas de corte
de gastos. A popularidade de
FHC, porém, não se abalou.
No ano passado, no entanto, o
Brasil teve de recorrer ao FMI
(Fundo Monetário Internacional). Em troca de ajuda financeira, o governo se propôs a aumentar a arrecadação e cortar
gastos, em uma decisão anunciada pouco depois de FHC
conquistar o segundo mandato.
A âncora cambial também
não resistiu. Neste ano, quando
o governo liberou o câmbio, o
dólar disparou, alimentando
previsões pessimistas, como
uma explosão da inflação.
Essas projeções se esvaíram
-ainda que a cotação do dólar
continue tendo comportamento irregular-, mas isso não livra a impressão de que o Brasil
"parou" mais uma vez.
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