São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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ALTOS E BAIXOS
Economia parada derruba popularidade que cresceu no Real
Cinco anos depois, presidente vê "o outro lado da moeda"

da Redação

A "Marcha dos 100 Mil", que tinha como um dos objetivos a crítica à política econômica do governo, chegou a Brasília dois dias depois do anúncio de que, em 1998, houve um recuo de 0,12% no PIB (a soma de bens e serviços produzidos pelo país em um ano).
Um dos motivos da atual insatisfação com o presidente Fernando Henrique Cardoso, traduzida pela sua queda de popularidade, está também na sensação de que, antes, "o país andava" -e para a frente.
O resultado do Produto Interno Bruto no ano passado, a primeira queda na renda desde 1992, sugere que essa observação não está equivocada.
Com o Plano Real, o crescimento da economia ajudou a elevar a popularidade do então presidente Itamar Franco a 40%, um nível que FHC superou e manteve até despencar para os atuais 16%. Essa queda expressiva, porém, não é uma exclusividade do atual presidente.
Em 1986, ano do Plano Cruzado, o então presidente José Sarney chegou a 27% de aprovação. Na época, havia o "fiscal do Sarney", personagem que significava o apoio ao congelamento de preços. Quando o plano falhou de vez, no ano seguinte, a economia estagnou e a hiperinflação virou ameaça. A popularidade do hoje senador desabou.
Antes de assumir, Fernando Collor tinha 71% de aprovação, mas o confisco de dinheiro feito em março de 1990 reduziu a sua popularidade à metade.
O índice diminuiu ainda mais com o escândalo do esquema PC Farias, que levou ao afastamento de Collor da política -poderá voltar só no ano que vem-, e com o enfraquecimento da economia.
Em meio a esses solavancos, o país cresceu 35,6% desde 1986, a maior parte após o Plano Real. Se confirmada a previsão de um recuo de 1% no PIB deste ano, o crescimento acumulado será de 34,3% em 14 anos.
Em entrevista recente, ao falar do atual desempenho da economia, FHC disse, revisionista, que talvez tivesse sido melhor ter alterado a política cambial antes de janeiro passado.
O Plano Real teve como uma de suas âncoras a taxa de câmbio. Por meio dela, a moeda brasileira se valorizou em relação ao dólar, em uma estratégia para facilitar importações, criar concorrência entre produtos nacionais e estrangeiros e inibir os aumentos de preços no país.
O mecanismo funcionou. A inflação caiu, mas outros problemas da economia brasileira, como o déficit público -cuja solução implica desgaste político-, não foram resolvidos.
Quando crises internacionais afetaram o país, o governo sustentou a política cambial, à custa de juros altos, aumento de impostos e propostas de corte de gastos. A popularidade de FHC, porém, não se abalou.
No ano passado, no entanto, o Brasil teve de recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Em troca de ajuda financeira, o governo se propôs a aumentar a arrecadação e cortar gastos, em uma decisão anunciada pouco depois de FHC conquistar o segundo mandato.
A âncora cambial também não resistiu. Neste ano, quando o governo liberou o câmbio, o dólar disparou, alimentando previsões pessimistas, como uma explosão da inflação.
Essas projeções se esvaíram -ainda que a cotação do dólar continue tendo comportamento irregular-, mas isso não livra a impressão de que o Brasil "parou" mais uma vez.


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