São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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MISTÉRIO EM AL
Augusto Farias afirma estar sendo perseguido
Irmão de PC acusa delegados de comandar uma quadrilha

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


O deputado Augusto Farias (PPB-AL) disse ontem que os delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade, os responsáveis pela nova investigação sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino, comandam uma quadrilha de extorsão, assassinato e pistolagem em Alagoas.
"Eles são sócios, um bando de canalhas", afirmou o deputado. Não foram apresentadas acusações específicas nem provas, o que a família Farias promete para a edição de domingo do jornal de sua propriedade, a "Tribuna de Alagoas."
Irmão de PC, Augusto Farias fez a afirmação um dia depois de o delegado Andrade ter dito que é "quase inevitável" o indiciamento do deputado sob a acusação de ser o mandante das duas mortes ocorridas em 1996.
A polícia vai abrir um inquérito específico para apurar suposta tentativa de suborno feita por funcionário do grupo empresarial dos Farias para o delegado Lessa, presidente do inquérito, não indiciar o deputado irmão de PC.
A possível proposta foi gravada sigilosamente por Lessa em duas conversas com o jornalista Roberto Baía.
As conclusões do inquérito sobre o suposto suborno também servirão para a investigação do caso do assassinato de PC.

Versão de Augusto
O irmão de Paulo César Farias reconheceu que se encontrou com Baía numa festa no sábado, dois dias antes da segunda gravação, mas negou que o jornalista pudesse falar em seu nome.
"Os delegados armaram um plano contra mim. Isso é típico de pessoas sem escrúpulo."
A entrevista coletiva de ontem foi a primeira de Augusto Farias desde a publicação, em março, da reportagem da Folha que provocou a reabertura do caso PC.
Em 1996, a Polícia Civil alagoana concluiu que Suzana matou o ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello e depois se suicidou. Agora, após a reabertura do caso, os delegados já indiciaram quatro ex-seguranças de PC Farias como autores das mortes.
"A Secretaria da Segurança vem cometendo aberrações", afirmou o irmão de PC. "O secretário da Segurança, Edmilson Miranda, é um moleque. Usa métodos de crápula, é um araponga de quarta categoria, que não era nem delegado da Polícia Federal, mas agente."
"Nossa família continua tendo a tese de crime passional", disse o deputado. Na sua opinião, o delegado Alcides Andrade o "persegue" para favorecer o tio Moacir Andrade, ex-governador de Alagoas. Andrade deixou o PPB do Estado neste ano depois de Augusto Farias assumir o controle do partido.
"Estou sendo vítima de um conluio político para inserir o meu nome no assassinato da pessoa mais querida que tive na vida."
Augusto Farias disse que o governador Ronaldo Lessa (PSB) "é omisso, falta-lhe pulso".
O deputado afirmou que os delegados "armaram" a versão do padrasto de Suzana, Eraldo Rodrigues, segundo o qual o segurança Reinaldo Lima lhe contou ter encontrado Suzana viva, próxima ao cadáver de PC. Lima é um dos indiciados por duplo homicídio.
"Os delegados foram a João Pessoa e criaram a versão", disse o deputado alagoano.
Na verdade, antes do depoimento do padrasto de Suzana, o relato já havia sido publicado na Folha, em entrevista da jornalista Ana Luiza Marcolino Noaro, irmã da namorada de PC.

Outro lado
O delegado Lessa disse que Augusto Farias está "desesperado". "Nós temos provas do que estamos dizendo", afirmou.
O secretário da Segurança, Edmilson Miranda, disse que faz "polícia, e não política". "Se atinjo os poderosos, não tenho culpa."
Já o governador Ronaldo Lessa afirmou não ser "omisso" e tratar "o caso PC como assunto de polícia".
O delegado Alcides Andrade disse que não está ajudando seu tio, Moacir Andrade, suplente de deputado federal. "Meu tio não ganha nada, ele não é suplente do deputado Augusto".


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