São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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TRANSIÇÃO

José Dirceu e Antônio Palocci são nomes praticamente certos para compor governo; José Genoino, se perder a eleição para o governo de São Paulo, é cotado para assumir a Defesa

Sob pressão, PT tenta adiar ministério

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
FÁBIO ZANINI
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se as urnas confirmarem as pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva se elege hoje presidente da República, e já tem dois nomes definidos para o seu ministério: José Dirceu, presidente nacional do PT, para a área política, e Antônio Palocci, prefeito licenciado de Ribeirão Preto e coordenador do seu programa de governo, para a área econômica.
O restante do eventual ministério, no entanto, ficará para a primeira quinzena de dezembro, de acordo com a palavra autorizada de Dirceu. O mercado financeiro, porém, pressiona pela definição dos nomes da área econômica.
O presidente nacional do PT será o operador político do virtual governo Lula, exatamente o que fez durante toda a campanha. Mas pode exercer a função ou como ministro da Justiça, ou como chefe do Gabinete Civil.
Palocci, ao que tudo indica, será o ministro do Planejamento, no caso da vitória de Lula, posto que ganhará relevância no governo petista, equiparando-se em poder e influência à Fazenda, toda-poderosa na gestão Fernando Henrique Cardoso.
A indicação de Palocci para o Planejamento e o novo status da pasta abrem espaço para a indicação de um não-petista, talvez um empresário, para a Fazenda.
Mas a ordem que Lula transmitiu a seu Estado-Maior é a de não discutir e menos ainda, como é óbvio, divulgar nomes. "Quem se nomear pelos jornais fica fora", chegou a dizer o candidato.
Mesmo com essa restrição, um terceiro nome é dado como certo para vir a compor um eventual gabinete petista: José Genoino, na hipótese de ser derrotado na eleição paulista.

Superministério
Nomes à parte, há algumas definições no PT sobre formato do que seria o governo. Exemplo: deve ser criado um superministério, com o nome provável de Ministério das Cidades, para cuidar de questões como habitação, saneamento e transportes urbanos.
Da mesma forma, está previsto que algumas secretarias ganhem status de ministério, casos de Combate à Fome, de Segurança Pública, de Mulheres e de Combate ao Racismo.
A intenção do PT, se vencer, é preparar e anunciar um "kit" administrativo-político completo, em vez de antecipar os nomes para a Fazenda e para o Banco Central, no que contraria o clamor dos mercados.
Por "kit" completo, entenda-se o ministério, o partido e as lideranças no Congresso.
A ordem de Lula é não permitir que a formação de governo esvazie o PT. Por isso mesmo, Genoino pode, em vez de ser ministro, tornar-se o presidente do partido, já que é o segundo de Dirceu, que, este sim, estaria no governo.
Um quarto componente do "kit" é o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, organismo de consulta no qual estão previstos notáveis do PT e de fora, como, entre outros, Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Delfim Netto, Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Belluzzo, muito possivelmente sob a coordenação de Guido Mantega, um dos porta-vozes econômicos do partido.

Transição
O grupo que deve ser primeiro designado é o de transição. Haverá uma equipe "enxuta" de coordenação, como a define Luiz Dulci, secretário-geral do PT, mais os 51 técnicos cuja nomeação (e pagamento) já está prevista pelo governo atual.
Em princípio, o anúncio da equipe de transição será feito na terça-feira, mesmo dia em que Lula deve avistar-se com FHC, já tendo seu pessoal designado.
Os coordenadores devem sair do grupo que já desempenhou esse papel na campanha, a saber: Dirceu, Dulci, Palocci, Luiz Gushiken (ex-deputado e braço direito de Dirceu) e Gilberto Carvalho, que cuida da agenda de Lula.
Lula pretende, aliás, reunir-se o mais depressa possível com os presidentes dos partidos todos, PSDB inclusive, para discutir as presidências das duas Casas do Congresso e a sustentação parlamentar do governo.
Nomes para o ministério só serão antecipados se a pressão dos mercados for muito forte. Mesmo assim, se for preciso indicar logo o ministro da Fazenda e o presidente do BC, a idéia do PT é divulgar simultaneamente os nomes da área política, para dar a demonstração de que a economia não predominará sobre a política no governo do partido.
"O Ministério da Fazenda não pode ser o centro do mundo", diz, por exemplo, Luiz Dulci.

Primeiros dias
De todo modo, definições mais firmes só virão no discurso da eventual vitória que Lula pretende fazer na segunda-feira no Hotel Intercontinental.
Hoje, mesmo que os resultados sejam conhecidos relativamente cedo, a idéia é fazer apenas a saudação emocional e formal caso confirmado vencedor, sem maior conteúdo político.
Na terça, Lula dá início formalmente à transição, no encontro com FHC, e, depois disso, deve permite-se uma folga, em São Paulo mesmo, de uma semana mais ou menos.
Se vencedor e depois de designado o ministério, Lula pretende reeditar algo próximo à Caravana da Cidadania, com que percorreu o Brasil em campanhas anteriores. Mas, desta vez, levando seus ministros para que sintam de perto as dores de regiões pobres como as do o Vale do Jequitinhonha e do sertão nordestino.
Claro que, desta vez, não irão todos de ônibus nem todos necessariamente ao mesmo tempo, mas o candidato tem repetido que é preciso que seus auxiliares conheçam o Brasil ao vivo.


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