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Governo avalia que STF acabou com 90% das greves do funcionalismo
Planalto acha que corte do ponto inibirá paralisações e já não tem pressa para regulamentar o tema
O ministro Paulo Bernardo afirma que decisão é muito positiva e terá aplicação imediata assim que ela for publicada no "Diário Oficial"
JULIANNA SOFIA
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de estender ao funcionalismo a Lei
de Greve do setor privado, acabou a pressa do governo federal
em enviar um projeto para o
Congresso para regulamentar o
direito de greve no serviço público. A Folha apurou que, na
avaliação do Executivo, a aplicação da lei no setor público
acabará com 90% das greves, já
que as regras autorizam o corte
do ponto dos grevistas.
Hoje, esse é o principal problema do governo ao lidar com
as paralisações. Embora uma
portaria do Ministério do Planejamento estabeleça o desconto dos dias parados, os próprios gestores boicotam a determinação. Nos raros casos
em que isso não acontece, os
sindicatos obtêm na Justiça
decisões impedindo o corte do
ponto, uma vez que não há previsão legal para isso.
O STF determinou que a Lei
de Greve seja aplicada ao setor
público porque, passados quase dez anos da promulgação da
Constituição, o governo não regulamentou o dispositivo que
trata das paralisações no serviço público. A decisão vale até
que uma lei seja aprovada dispondo sobre o assunto.
No Palácio do Planalto, o entendimento é que a extensão
da lei ao funcionalismo colocou
o governo em uma situação
"cômoda". Como as regras são
duras, agora passará a ser interesse dos servidores "correr"
com a regulamentação do direito de greve no funcionalismo. Até então, os sindicatos vinham se recusando a tratar do
assunto e criticavam a proposta elaborada pelo Executivo.
Na última versão do projeto,
o governo não só estabeleceu o
corte do ponto, como abriu a
porta para a contratação de
servidores temporários para
substituir os grevistas. Além
disso, está previsto que pelo
menos 40% dos serviços essenciais deveriam ser mantidos
em funcionamento.
Para levar o projeto adiante,
o governo precisaria superar
não só a oposição dos servidores como administrar problemas internos. Vários ministros
-entre eles Carlos Lupi (Trabalho) e Luiz Dulci (Secretário
Geral)- vinham minando a
proposta e defendiam ampliar
os debates sobre o assunto. No
Congresso, a própria base governista, principalmente o PT,
tem restrição ao projeto.
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) disse que a decisão do STF é muito positiva e
terá aplicação imediata, assim
que for publicada no "Diário
Oficial". Ele já pediu à AGU
(Advocacia Geral da União) um
parecer orientando o ministério sobre a aplicação das regras.
"Deveremos ter uma audiência
com o presidente Lula para fazer uma avaliação conjunta do
assunto", disse o ministro.
Já o ministro Luiz Marinho
(Previdência), mais sintonizado com o movimento sindical,
afirma que os ministros do Supremo não resolveram a questão: "Não houve decisão sobre
o direito de negociação coletiva", afirma Marinho. Os servidores querem que o governo
ratifique uma convenção da
Organização Internacional do
Trabalho que trata da negociação coletiva no setor público.
Ex-ministro do Trabalho,
Marinho iniciou as discussões
entre governo e centrais sindicais sobre greve no funcionalismo. A proposta que saiu das negociações foi reformulada pela
AGU e pelo Planejamento. Marinho disse ontem que é favorável ao corte de ponto e defende urgência para fechar o projeto de regulamentação: "Hora
parada é hora cortada", afirma.
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