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JANIO DE FREITAS
A ótica do doutor
A ausência na maior parte
do país e, nas regiões privilegiadas, a insuficiência de saneamento são reconhecidas, pela
medicina e pelas estatísticas do
Ministério da Saúde, como responsáveis maiores pela mortalidade infantil e como a maior
causa externa de doenças em
crianças e adultos.
As consequências da falta de
saneamento não representam
problema apenas para a medicina. Exaurem os cofres dos municípios e dos Estados, com os gastos sempre crescentes do atendimento às populações pobres nos
postos de saúde, ambulatórios de
emergência e hospitais de internação. Além dos gastos do governo federal, pelo Ministério da
Saúde e pelo INSS.
A falta de saneamento é aflitivo problema humano, terrível
problema social e agressivo problema para os recursos dos três
níveis de governo. Ministro da
Saúde, José Serra viu o problema
do ângulo federal e lutou, sem
êxito, na tentativa de obter de
Pedro Malan e Fernando Henrique Cardoso apoio financeiro e
administrativo para projetos de
saneamento. Médico, ex-prefeito
e ministro da Fazenda, Antonio
Palocci pode perceber todas as
dimensões do problema.
Em seu novo acordo com o
Brasil, o FMI consente que o governo Lula destine R$ 2,9 bilhões
para projetos de saneamento, os
quais, porém, não serão necessariamente seus. Podem ser dos
municípios, com repasse das verbas federais para apoio às prefeituras, como financiamento ou a
fundo perdido -que, dada a finalidade, não seria perdido, mas
ganho.
O médico, ex-prefeito e ministro da Fazenda fixou condições,
porém, muito expressivas em vários sentidos.
Para uma prefeitura, por
exemplo, incumbir-se da obra
que lhe pareça mais necessária,
precisará demonstrar a capacidade de realizá-la sem fazer dívida alguma. Condição que sugere
uma pergunta simples: se a prefeitura tem tal capacidade financeira, por que não teria efetivado
ainda o seu projeto saneador?
Há condições ainda mais interessantes, como a exigência de
que os projetos, para terem a
participação de recursos federais
consentidos pelo FMI, mostrem-se rentáveis. Até hoje e no mundo todo, saneamento foi, antes
de tudo, serviço de saúde pública. No governo Lula, ou é negócio ou não é feito.
Negócio, sim. A deliberação do
médico, ex-prefeito e ministro da
Fazenda é fazer "parcerias com a
iniciativa privada", já se sabendo quem entrará com o grosso
dos recursos e quem sairá com o
grosso dos lucros, e concessões
para exploração particular.
Ah, sim, município com dívida
incursa na Lei de Responsabilidade Fiscal -uma forma de estrangulamento dos municípios
criada pelo governo Fernando
Henrique- não poderá sequer
sonhar com algum dinheiro para
saneamento. Se o município deve, as pessoas que o habitam devem continuar vivendo sem condições sanitárias. É o que estabelece o governo Lula, por intermédio do médico, ex-prefeito e ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
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