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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Na Vara de juiz hoje preso foi arquivado processo em que estrangeiro era réu

PF apura elo entre italiano e acusados por quadrilha

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Surgiu novo alvo de investigação na Operação Anaconda. É o empresário italiano Giancarlo Nardi, que, para a Polícia Federal, estaria intermediando a abertura de conta bancária no Estado do Vaticano a fim de movimentar recursos da suposta quadrilha acusada de manipular inquéritos policiais e sentenças judiciais.
Em meio aos documentos apreendidos no apartamento de Norma Cunha, ex-mulher do juiz João Carlos da Rocha Mattos, no dia 30 de outubro, a PF encontrou bilhetes nos quais o empresário oferece a abertura da conta.
Para o advogado de Norma Cunha, Paulo Esteves, não há delito em cogitar de abrir conta no exterior: "Cogitar não é crime porque o ato não foi consumado", diz.
Entre os quatro bilhetes encontrados, existe um, datado de 2 de outubro de 1998, no qual o empresário menciona uma viagem que faria ao Vaticano acompanhado por Cunha: "Caríssima Norma, favor avisar o dia em que gostaria de passar a escritura. Eu gostaria que fosse antes da nossa ida ao Vaticano. Favor informar. Grato, Giancarlo".

Nardi
Pesquisa feita na internet indica Giancarlo Nardi como representante do consulado da Itália em Guarulhos (SP). Ele ocupou o cargo pelo menos até o ano de 2000. O número do telefone celular que surge da pesquisa ainda pertence ao empresário italiano.
A reportagem tentou contatá-lo na manhã e na tarde de ontem. Nas duas primeiras ligações, atendeu uma mulher que se identificou como Nice. Disse trabalhar na residência de Nardi e informou que o empresário estava em viagem a Buenos Aires. À tarde, o telefone permaneceu desligado.
Em um dos bilhetes, desta vez para um outro destinatário -provavelmente Rocha Mattos, segundo a PF-, Nardi afirma que não há ilegalidade no procedimento e explica suas intenções ao oferecer a conta: "Oxalá todos pudessem ter conta lá... portanto, não entenda de forma errada a minha maneira de oferecer tal conta, só para um grande amigo como você, em troca de favores recíprocos, como é o nosso caso".
O relatório do Departamento de Inteligência da PF associa Nardi a João Carlos da Rocha Mattos no processo 199903990031580. O empresário era réu até 21 de março de 2003, quando o caso, que tramitava na 4ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, cujo titular era Rocha Mattos, foi arquivado. Não foi possível chegar a seu conteúdo devido ao arquivamento.
Entre os documentos apreendidos no dia 30, a PF encontrou cópia de laudo de exame contábil das empresas Itália Veículos, Grupo OK, Benfica Pneus e Saenco. Todas têm como principal sócio Luiz Estevão (DF), cujo mandato de senador foi cassado em 2000.
Os policiais investigam se a documentação tem ligação com a atuação da suposta quadrilha revelada pela Operação Anaconda.
Estevão disse desconhecer tais documentos. "Não tenho a menor idéia do que seja isso. Se é um laudo, não foi feito por nós [das empresas]", afirmou.


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