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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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Agente federal recebeu R$ 1,285 mi de seu sócio

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal encontrou na casa do agente federal César Herman Rodriguez, em São Paulo, dois cheques, de R$ 520 mil e R$ 765 mil, do empresário Cícero Viana Filho. Os dois cheques somam R$ 1,285 milhão.
A Polícia Federal suspeita que Viana Filho tenha usado uma de suas empresas para dar uma origem legal a dinheiro que a suposta quadrilha de que Rodriguez faria parte obtinha com a venda de sentenças judiciais e de "facilidades" nos inquéritos policiais. Rodriguez e mais oito pessoas estão presos na carceragem da PF em São Paulo sob essas acusações.
Viana Filho é dono de uma rede de revendas da Chevrolet, a Itororó (que tem sete lojas em São Paulo), de uma empresa de táxi aéreo e de uma pedreira.
As duas últimas atividades, segundo análise da Polícia Federal, são propícias à lavagem de dinheiro. Um delegado lembra que Paulo César Farias, o tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, lavava dinheiro que era extorquido de empreiteiros em uma empresa de táxi aéreo.

Prédio na Angélica
Os dois cheques, do Unibanco e do Santander, foram apreendidos no último dia 30 de outubro no sobrado em que Rodriguez vivia na rua Diná, na Vila Nova Conceição, na zona sul de São Paulo.
Reportagem publicada pela Folha no último domingo revelou que o empresário e o agente da PF seriam sócios na construção de um prédio de 15 andares na avenida Angélica, na região central de São Paulo, segundo a versão de Viana Filho. O empreendimento já teria consumido investimentos de R$ 8 milhões.
Para entrar como sócio do prédio em construção, o agente da PF teria dado dois imóveis, os quais o advogado de Viana Filho, Luiz Fernando Pacheco, diz não saber quais são. Ele afirma desconhecer qual é a participação que o agente tem no empreendimento em troca dos dois imóveis, localizados em Moema (zona sul) e Santana (zona norte de São Paulo).
Pacheco foi sócio de Márcio Thomaz Bastos até este vender a sua parte no escritório de advocacia para assumir o Ministério da Justiça do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva.
Gravações feitas PF e documentos apreendidos mostram que Rodriguez comportava-se como dono do prédio. Na sala que o agente mantinha em um escritório de advocacia na avenida Faria Lima, por exemplo, a polícia apreendeu demonstrativos de gastos na obra.
É por causa da nebulosidade do negócio e do fato de Rodriguez ter um patrimônio incompatível com o salário líquido de R$ 4.500 que ganha mensalmente que a Polícia Federal suspeita dos cheques do empresário Viana Filho.
Levantamento feito pela Folha mostra que o agente tem um patrimônio registrado oficialmente de R$ 1,45 milhão e que para juntar esse montante ele teria de trabalhar na PF durante 25 anos sem gastar nem um centavo.
Considerado pelo Ministério Público Federal como um dos mentores do esquema de venda de sentenças, tráfico de influências e extorsão, Rodriguez integra os quadros da PF há 14 anos.
O agente federal tinha a sociedade no prédio em construção e outros bens avaliados em R$ 880 mil que não estavam em seu nome.
Segundo a PF, Rodriguez usava como laranja a sua secretaria no escritório de advocacia de Affonso Passarelli Filho, que também está preso. Um dos apartamentos que Rodriguez tem no Morumbi, na zona sul, está em nome de Lisandra Gisella Vilela Chagas.


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