São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Idéia é desvincular despesas de campanha das finanças do partido; Oded Grajew é um dos nomes cotados para desempenhar a função

Lula busca empresário para vaga de tesoureiro

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu reformular a estrutura de sua campanha de reeleição, retirando do PT atribuições centrais, como a arrecadação financeira. A decisão é um exemplo da insatisfação de Lula com o partido e tem relação direta com o estrago provocado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Uma possibilidade em estudo, segundo a Folha apurou, é dar o controle financeiro da campanha a um empresário com ligações históricas com o partido. O nome natural seria o de Oded Grajew, ex-assessor especial do presidente, mas que tem esboçado críticas ao governo recentemente, o que dificulta a possibilidade.
Quem assumir o posto terá autonomia para fazer contatos com doadores e gerenciar a distribuição de recursos. Não estará subordinado ao sucessor de Delúbio na tesouraria do PT, Paulo Ferreira, nem mesmo do presidente do PT, Ricardo Berzoini. Responderá diretamente a Lula e ao coordenador-geral da campanha. Será uma mudança radical em relação a 2002, quando Delúbio se tornou o czar financeiro do PT.
"A separação é a grande lição da crise. O PT foi se comprometendo demais com a campanha de Lula e acabou se enforcando", diz Ferreira. O partido tem uma dívida de R$ 54 milhões e teve de apelar aos filiados para ajudar a pagá-la.
O esvaziamento da tesouraria do PT é parte de uma transferência de poder da cúpula partidária para um grupo seleto de assessores de extrema confiança de Lula.
Em 2002, José Dirceu acumulou a presidência do PT e a coordenação da campanha. Em 2006, Berzoini dificilmente repetirá o feito. O favorito para cuidar da campanha é o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais).
A coordenação do programa de governo tem tudo para ficar com Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência. Ele já lidera uma comissão para apresentar em dezembro a "metodologia" de preparação do documento. O ex-ministro Tarso Genro (Educação) corre por fora.
Lula gostaria de ter o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência, Luiz Gushiken, e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na campanha, mas isso dependerá de eles sobreviverem à crise política. Dos membros da direção petista, apenas Garcia (também primeiro-vice-presidente do partido) e Berzoini terão voz ativa na campanha.
O PT está atrasado em comparação com campanhas anteriores. A esta altura, na disputa passada, já havia um coordenador de campanha (Dirceu) e um de programa (Celso Daniel, que morreria pouco depois). Agora, por conta da crise, as definições devem ficar para abril. Mesmo assim, já se ouvem vozes descontentes.
"A campanha à reeleição sempre ia ter uma participação forte dos "palacianos", mas a crise vai tornar o PT quase uma figura decorativa", diz um membro da Executiva, que pede anonimato e ameaça "puxar o carro" (abandonar a direção) em breve.
Berzoini diz que eventuais tensões serão contornadas. "A Executiva do PT vai estar na campanha do Lula, naturalmente, e o presidente do partido vai participar do núcleo coordenador."
O partido já montou um Grupo de Trabalho Eleitoral, mas que deverá ficar mais por conta dos palanques estaduais.
Há 15 dias, Lula expressou a um deputado preocupação com a fragilidade das alianças. "O PT está de novo incorrendo no erro de querer ter candidato próprio, mesmo que para perder, em todos os Estados, em vez de pensar no projeto nacional e costurar alianças", disse o presidente, segundo relato ouvido pela Folha.


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