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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Idéia é desvincular despesas de campanha das finanças do partido;
Oded Grajew é um dos nomes cotados para desempenhar a função
Lula busca empresário para vaga de tesoureiro
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva decidiu reformular a estrutura de sua campanha de reeleição, retirando do PT atribuições
centrais, como a arrecadação financeira. A decisão é um exemplo
da insatisfação de Lula com o partido e tem relação direta com o estrago provocado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Uma possibilidade em estudo,
segundo a Folha apurou, é dar o
controle financeiro da campanha
a um empresário com ligações
históricas com o partido. O nome
natural seria o de Oded Grajew,
ex-assessor especial do presidente, mas que tem esboçado críticas
ao governo recentemente, o que
dificulta a possibilidade.
Quem assumir o posto terá autonomia para fazer contatos com
doadores e gerenciar a distribuição de recursos. Não estará subordinado ao sucessor de Delúbio
na tesouraria do PT, Paulo Ferreira, nem mesmo do presidente do
PT, Ricardo Berzoini. Responderá diretamente a Lula e ao coordenador-geral da campanha. Será
uma mudança radical em relação
a 2002, quando Delúbio se tornou
o czar financeiro do PT.
"A separação é a grande lição da
crise. O PT foi se comprometendo
demais com a campanha de Lula e
acabou se enforcando", diz Ferreira. O partido tem uma dívida
de R$ 54 milhões e teve de apelar
aos filiados para ajudar a pagá-la.
O esvaziamento da tesouraria
do PT é parte de uma transferência de poder da cúpula partidária
para um grupo seleto de assessores de extrema confiança de Lula.
Em 2002, José Dirceu acumulou
a presidência do PT e a coordenação da campanha. Em 2006, Berzoini dificilmente repetirá o feito.
O favorito para cuidar da campanha é o ministro Jaques Wagner
(Relações Institucionais).
A coordenação do programa de
governo tem tudo para ficar com
Marco Aurélio Garcia, assessor
especial da Presidência. Ele já lidera uma comissão para apresentar em dezembro a "metodologia" de preparação do documento. O ex-ministro Tarso Genro
(Educação) corre por fora.
Lula gostaria de ter o chefe do
Núcleo de Assuntos Estratégicos
da Presidência, Luiz Gushiken, e o
ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na campanha, mas isso dependerá de eles sobreviverem à
crise política. Dos membros da direção petista, apenas Garcia (também primeiro-vice-presidente do
partido) e Berzoini terão voz ativa
na campanha.
O PT está atrasado em comparação com campanhas anteriores.
A esta altura, na disputa passada,
já havia um coordenador de campanha (Dirceu) e um de programa (Celso Daniel, que morreria
pouco depois). Agora, por conta
da crise, as definições devem ficar
para abril. Mesmo assim, já se ouvem vozes descontentes.
"A campanha à reeleição sempre ia ter uma participação forte
dos "palacianos", mas a crise vai
tornar o PT quase uma figura decorativa", diz um membro da
Executiva, que pede anonimato e
ameaça "puxar o carro" (abandonar a direção) em breve.
Berzoini diz que eventuais tensões serão contornadas. "A Executiva do PT vai estar na campanha do Lula, naturalmente, e o
presidente do partido vai participar do núcleo coordenador."
O partido já montou um Grupo
de Trabalho Eleitoral, mas que
deverá ficar mais por conta dos
palanques estaduais.
Há 15 dias, Lula expressou a um
deputado preocupação com a fragilidade das alianças. "O PT está
de novo incorrendo no erro de
querer ter candidato próprio,
mesmo que para perder, em todos os Estados, em vez de pensar
no projeto nacional e costurar
alianças", disse o presidente, segundo relato ouvido pela Folha.
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