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Índios reagem contra proibição de garimpos
DA AGÊNCIA FOLHA, NA RAPOSA/ SERRA DO SOL
DA ENVIADA À RAPOSA/SERRA DO SOL
Na comunidade do Flexau,
encravada no interior da terra
indígena Raposa/Serra do Sol,
os índios se dizem prontos para
reagir violentamente caso a Polícia Federal tente cumprir a
determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) de impedir o garimpo de ouro e diamante, mesmo que manual.
"Estamos preparados para
matar ou morrer", disse o índio
Neilton Barbosa, que durante a
visita da reportagem mostrou
as flechas que usaria no caso de
a PF voltar a fazer uma operação na comunidade, como
ocorreu em outubro, quando
equipamentos de garimpagem
foram destruídos. "Isso aqui é o
que a gente usa em quem mente para os índios", disse.
A frase de Barbosa remete ao
suposto comportamento dos
policiais durante a operação.
Segundo os índios, os policiais
chegaram "bonzinhos", afirmando que era apenas uma visita de rotina, e foram escondidos até a área de garimpo onde
estavam as máquinas -motores e bombas usados para revolver o fundo do rio e facilitar
a localização dos minerais.
A retirada do ouro pelos índios ocorre há décadas. Mas ela
foi explicitamente negada pelo
STF em sua decisão de março.
Criminalizar a atividade, dizem os moradores, é secar uma
das poucas fontes de renda
-eles vendem o mineral em Uiramutã, município que fica
dentro da reserva.
"Aqui não vai mudar nada.
Não vamos ser comandados.
Aqui a lei não existe", afirmou
Barbosa. A PF não quis comentar as declarações e afirmou
que suas operações apenas
cumprem ordens judiciais.
O orgulho exibido contra o
"invasor" na Flexau, comunidade que foi contrária à demarcação contínua, tem um viés diferente nos povoados que nunca gostaram da presença de não
índios. Nelas, o policial federal
é aceito por ter promovido a expulsão dos arrozeiros. Mas outros estranhos não são tão bem
aceitos pelos índios, que agora
se sentem mais donos da terra.
Em visita anterior da Folha à
reserva, em maio passado, bastava uma autorização simples
da Funai (Fundação Nacional
do Índio) para percorrer a região. Hoje essa autorização tem
de ser dada pelo próprios indígenas, de maneira antecipada.
E, mesmo assim, eles podem se
recusar a falar -como aconteceu na última visita da reportagem, neste mês.
Quando a Folha se aproximou da antiga fazenda Depósito, que pertenceu ao arrozeiro
Paulo César Quartiero, para falar com os que se apossaram do
que restou da propriedade, sua
presença foi submetida a uma
espécie de "assembleia" de cerca de 20 índios. De forma unânime, eles decidiram que não
dariam entrevistas.
(JCM E MB)
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