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NOVO GOVERNO
Presidente gasta 17% de seu apoio após sua reeleição, em 4 de outubro
Às vésperas do 2º mandato, cai a popularidade de FHC
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O presidente
Fernando Henrique Cardoso
gastou quase
17% de seu capital de popularidade (ou sete
pontos percentuais) nos dois meses e meio decorridos entre a véspera de sua reeleição, no dia 4 de outubro, e as
vésperas da posse para o segundo
mandato, no dia 1º de janeiro.
A gestão FHC era avaliada como
"ótima/boa" por 42% dos pesquisados pelo Datafolha nos dias 24 e
25 de setembro, a 10 dias, portanto,
da eleição de outubro.
Agora (dias 10 e 11 de dezembro),
são apenas 35% os que dão a FHC
idêntico qualificativo.
A lógica mandaria atribuir a queda aos dois eventos de maior impacto ocorridos no período.
Um foi o chamado dossiê Caribe,
a papelada que supostamente indicaria a existência de uma conta secreta do presidente e de outros caciques tucanos nas Ilhas Cayman,
conhecido paraíso fiscal.
O segundo foi o grampo nos telefones do então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e do presidente do
BNDES, André Lara Resende, o
que levou à demissão de ambos.
Mas a lógica não coincide com o
fato de que a maioria das 11.851
pessoas consultadas em 299 municípios brasileiros nem sequer tomou conhecimento dos episódios.
No caso do dossiê Caribe, 56%
não sabiam, sem contar os 13%
que, embora tenham tomado conhecimento, se acham "mal informados".
É maior ainda (64%, ou dois de
cada três brasileiros) a porcentagem dos que não sabem que Luiz
Carlos Mendonça de Barros pediu
demissão.
Com base nesses números, parece mais razoável atribuir a queda
na popularidade do presidente ao
aumento nas expectativas pessimistas da população em relação à
situação econômica.
Quase a metade dos consultados
(48%) acredita que a inflação vai
aumentar nos próximos meses e
um número ainda maior (66%) teme o crescimento do desemprego
(ver texto na página ao lado).
Os 35% de "ótimo/bom" (para
37% de "regular" e 25% de "ruim/
péssimo") significam que FHC decepcionou exatamente a metade
dos brasileiros otimistas com a expectativa de sua posse, a 1º de janeiro de 1995.
Antes da posse, eram 70% os que
acreditavam que a gestão FHC seria "ótima/boa".
Agora, são apenas 41% os que
têm idêntica expectativa em relação ao segundo mandato.
Em apenas 4 das 22 pesquisas do
Datafolha nos quatro anos de
mandato, a porcentagem de "ótimo/bom" ficou abaixo dos 35% de
agora.
O ponto mais baixo (30%) surgiu
em junho de 1996, na esteira de
uma série de episódios escandalosos, como o massacre de sem-terra
em Eldorado dos Carajás (PA), a
morte de idosos em clínicas do Rio
de Janeiro e a morte de doentes renais que faziam hemodiálise em
Caruaru (PE).
Mas seis meses depois, FHC já
havia recuperado os pontos perdidos: chegava a 47% de "ótimo/
bom", até hoje o pico de popularidade, só equiparável aos 46% obtidos justamente às vésperas das
eleições deste ano.
O prestígio do presidente concentra-se nas regiões e faixas da
população menos avançadas educacional e economicamente.
É maior no interior (40%) que
nas regiões metropolitanas (26%),
menor no Sudeste (33%) que no
Norte/Centro-Oeste (45%), maior
entre os eleitores com apenas até 1º
grau (38%) que entre os de nível
educacional superior (32%).
Por Estados, o Rio de Janeiro
concentra o maior número de críticos à gestão FHC (34% de
"ruim/péssimo"), seguido do Ceará (31%).
O Paraná é o exemplo oposto,
com 40% de "ótimo/bom".
A nota média de FHC, ao terminar seu primeiro mandato fica em
5,6, a quarta mais baixa.
A pesquisa mostra um certo paradoxo em relação aos casos do
dossiê Caribe e do grampo.
A maioria relativa dos pesquisados (45%) acredita que as denúncias sobre a conta secreta são verdadeiras. Mas, no grampo, a maioria, igualmente relativa (39%),
acha que as conversas do ministro
Mendonça de Barros visavam aumentar a concorrência nos leilões
das teles.
Número levemente menor (36%)
atribui ao ministro que pediu demissão a intenção menos nobre de
favorecer um dos participantes da
privatização.
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