São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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SEGUNDO MANDATO
Novo ministro do Desenvolvimento afirma que incentivo à produção e estabilidade são compatíveis
Lafer nega atrito com equipe econômica

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local


O ministro nomeado para a nova pasta do Desenvolvimento, Celso Lafer, 57, argumentou ontem não ter fundamento a previsão de que entraria em atrito com a equipe econômica, ao valorizar a produção e o emprego em lugar da estabilidade da moeda e a paridade cambial.
"Teremos uma ampla margem de manobra para favorecer a produção", disse ele por volta das 13h, depois de visitar o governador Mário Covas, que convalesce no Incor (Instituto do Coração).
Entre os instrumentos que disse poder utilizar, Lafer mencionou o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a implementação de uma política industrial, maior capacitação científica e tecnológica, e novos estímulos ao comércio externo.
Também disse não acreditar que exista incompatibilidade entre sua missão e a manutenção da inflação próxima a zero. Qualificou os dois objetivos como "focos" paralelos e diferenciados do presidente Fernando Henrique Cardoso, que a seu ver podem ser conciliados.
"Há espaço para que as duas prioridades convivam como políticas do governo", afirmou.
Lafer ainda não havia se pronunciado sobre sua indicação ou discorrido sobre suas intenções. Quando seu nome foi tornado público pelo Planalto, ele se encontrava em Genebra, onde chefia a delegação permanente do Brasil junto a organismos da ONU.
Nessa primeira entrevista, não quis comentar a manifestação conjunta da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) com a Força Sindical, em que foi contestada a ênfase que o governo dá à estabilidade moeda, com tudo o que isso pressupõe no sistema de âncora cambial adotado pelo país, como um câmbio prejudicial às exportações, estímulo insuficiente ao emprego e diminuição da massa salarial.
Indagado sobre essa postura, que de certo modo tromba com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, o futuro ministro do Desenvolvimento preferiu discorrer sobre a "enorme responsabilidade" da missão que lhe foi confiada por FHC, e a argumentar que não há incompatibilidade entre ela e a estabilidade do real.
Sobre a política industrial, disse estar trazendo "alguns ingredientes úteis" que conheceu ao conviver, em Genebra, com "um tipo de diplomacia concreta", voltado para as atividades comerciais, como foi o caso com a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Lafer disse, por fim, ter pedido, e obtido, o apoio de Covas para o exercício de seu ministério.



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