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ALIADOS
Com a morte de Motta e a saída de Mendonça de Barros, tucanos paulistas perdem espaço no governo federal
Amigos de FHC mudam no 2º mandato
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O presidente
Fernando Henrique Cardoso
mantém o governo e o poder
a partir da próxima sexta-feira, mas os amigos do primeiro mandato não serão necessariamente os mesmos
no segundo.
Ao assumir a Presidência da República pela primeira vez, em 1994,
FHC não recebeu apenas a faixa
verde e amarela, mas também um
abraço e um sorriso cúmplice do
antecessor Itamar Franco.
Da segunda vez, Itamar será o
grande ausente. Sorrindo para a
oposição, ele continua disputando
o título de "pai do Real" e prepara
sua volta ao Planalto nas eleições
de 2002, pelo PMDB.
Também farão falta duas peças-chaves do primeiro mandato: o
ministro Sérgio Motta e o deputado Luís Eduardo Magalhães, ambos mortos em abril.
Os dois eram decisivos nas articulações do governo, sobretudo
nas votações de emendas constitucionais no Congresso. Além disso,
Motta foi o principal comandante
do processo de privatizações.
Luís Eduardo, ao contrário de
Motta, não teve até hoje um substituto à altura. Não porque ocupasse
a liderança do governo -que não
foi seu melhor momento-, mas
pela proximidade com FHC e pela
capacidade de articulação entre os
diferentes partidos. Independente
de cargos e funções.
Ele costumava fazer uma "dobradinha" com Motta, que jamais
conseguiu superar uma relação de
puro pragmatismo e muita desconfiança com o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães,
pai do deputado baiano.
Ministro das Comunicações, tucano de primeira hora, amigo e sócio de FHC numa fazenda, Motta
era também o porta-voz de FHC
quando a formalidade do Planalto
e o estilo do embaixador Sergio
Amaral impediam uma reação à
altura dos ataques, ou um recado
menos diplomático.
Seu substituto, tanto na função
de ministro quanto na missão de
falar grosso, também já está fora
do governo: foi Luiz Carlos Mendonça de Barros, ligado aos tucanos paulistas e derrubado pelo
grampo do BNDES durante a privatização das teles.
Mendonça de Barros caiu junto
com seu irmão José Roberto Mendonça de Barros, da Câmara de
Comércio Exterior, e com um dos
economistas mais prestigiados do
governo, André Lara Rezende, ex-presidente do BNDES.
Luiz Carlos, porém, não está totalmente fora do governo. Mesmo
sem cargo, ouve, fala, interfere.
Talvez esteja mais próximo ainda
de FHC do que quando ocupava
um ministério. Sua volta formal
não é de todo descartada. Depende
da decantação da crise do grampo.
Com a morte de Motta e o afastamento de Mendonça de Barros,
quem perdeu espaço no governo
foram justamente os tucanos, em
especial os paulistas que mais ou
menos abertamente sempre discordaram da política econômica
de Pedro Malan (Fazenda) e Gustavo Franco (Banco Central).
Malan cresceu com sua atuação
durante a crise financeira internacional que abalou o Brasil. Franco
encolheu, perdendo um pouco de
sua intimidade com FHC e de sua
capacidade de influência sobre as
decisões econômicas do governo.
O equilíbrio de posições entre
Malan e Franco não afeta a posição
dos tucanos que restaram a FHC:
José Serra (Saúde) e Paulo Renato
Souza (Educação) continuam fora
da área econômica e dentro do Palácio da Alvorada, e o governador
Tasso Jereissati (CE) é um consultor à distância.
Quem deve crescer no novo governo é o futuro ministro Pimenta
da Veiga (Comunicações), que foi
presidente do PSDB.
Paulista e também identificado
com os tucanos, o chefe da Casa
Civil, Clóvis Carvalho, sofre restrições no PSDB, no PFL, no PMDB,
no PTB e até entre colegas de ministério. É daqueles que sobrevive
no cargo e no governo graças a um
único trunfo: a vontade do presidente. Num regime presidencialista, é o que basta.
Também mantêm uma ligação
direta com FHC Eduardo Jorge
Caldas Pereira, afastado da Secretaria Geral da Presidência desde a
campanha eleitoral, Eduardo
Graeff, que o substitui, e Ana Tavares, a assessora de imprensa de
FHC desde 1983.
Entre os tucanos, a última baixa
veio com a descoberta do câncer
na bexiga do governador reeleito
Mário Covas, já operado e convalescendo bem.
FHC é um intelectual que se alinhou às esquerdas e aos socialistas
durante a ditadura militar. Covas é
um político de carreira. E o mais
expressivo líder do PSDB nacional.
A relação dos dois sempre foi de
um certo mal-estar, quase de constrangimento mútuo. Mas FHC
sempre soube contar com Covas
nas horas mais difíceis. Quem conhece bem o governador diz que a
fidelidade ao partido e aos companheiros é um traço de caráter.
²
Lula
FHC foi buscar na oposição um
antigo aliado dos tempos de combate à ditadura militar: Luiz Inácio
Lula da Silva, do PT. Os dois se encontraram no dia 11 de dezembro,
no Alvorada. Tomaram uísque,
conversaram sobre os velhos tempos, trocaram risadas e falaram
mal de um ou outro político.
"Uma conversa pessoal", definiu
Lula depois, empurrando para o
PT a decisão de formalizar uma lista de assuntos passíveis de conversas e eventuais negociações entre o
partido e o governo.
Até onde a "conversa pessoal" de
Lula e FHC pode evoluir ninguém
sabe. Mas foi um gesto político importante do presidente para sinalizar a seus próprios aliados que tem
para onde correr se fecharem o
cerco sobre ele.
Depois da morte do filho Luís
Eduardo, Antonio Carlos Magalhães se aproximou mais de FHC e
tem repetidas vezes feito declarações de amizade e respeito. Mas as
relações dos dois jamais foram e
dificilmente serão de amizade,
apenas de aliados no poder.
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