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JANIO DE FREITAS
Doença brasileira
40% dos formandos
em medicina não têm
nem os conhecimentos
mínimos para exercê-la
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ENQUANTO se discutem os efeitos hipotéticos do pacote de
um presidente que declarava
encerrada, por seu governo, a era
dos pacotes, uma notícia literalmente fatídica mal chegou à superfície:
40% dos formandos em medicina
não têm nem os conhecimentos mínimos para exercê-la - mas logo estarão, ou já estão, atendendo como
médicos. Não são formandos de faculdades em estados precários,
Piauí, Amapá, Rondônia, mas de faculdades da riqueza paulista, submetidos ao veredicto do Conselho
Regional de Medicina de São Paulo-Cremesp.
Duas observações do coordenador
do exame, cardiologista Bráulio Luna Filho, dimensionam a ênfase merecida, mas negada, pela notícia.
Os formandos em geral iniciam a
prática médica pela emergência
hospitalar, onde a maioria dos pacientes chega necessitando de tratamento tão urgente quanto competente. Aí os aguarda a alta probabilidade de atendimento incompetente.
A má formação manifesta-se com
a mesma ameaça em outros setores,
inclusive consultórios particulares,
como se deduz das 3.360 denúncias
de erros médicos em 2005, com aumento de 142% em apenas dez anos.
Não por acaso, a maioria dos acusados foi formada, ou melhor, diplomada pelas faculdades com o desempenho mais deplorável no Exame Nacional de Desempenho dos
Estudantes, o Enade.
Do anterior para o recente exame
aplicado pelo Cremesp, ficou evidente a piora constante do ensino de
medicina, com mais 7% de reprovações só de um ano para o outro.
E olhe que os formandos dispostos ao teste do Cremesp, não obrigatório, são tidos como os melhores de
suas faculdades.
Vê-se que o tal Enade não se prestou à utilidade tão propalada.
Mais útil - aliás, só por absurdo
ainda inexistente - é outro tipo de
exame.
Assim como a Ordem dos Advogados do Brasil exige a aprovação em
exame seu, para dar validade profissional aos diplomas das faculdades
de Direito, os diplomados em medicina não poderiam ser dispensados
de exame pelas autoridades da profissão, para justificarem a confiança
das vidas alheias.
De garis, estes heróis das cidades,
e de médicos depende a nossa existência de seres urbanos.
Vale ver
Uma pista para os investigadores
do desastre na construção do metrô paulistano.
Feita a perfuração, uma espécie
de armadura de ferro é posta como
parte de sustentação do teto escavado e de sua concretagem.
Chamada de cambota, a armadura é fortemente presa à base das paredes laterais, à altura do seu encontro com o piso.
No trecho do metrô em que se
abriu a cratera, porém, o travamento da cambota nas bases estaria dispensado, aparentemente para
apressar a concretagem, mas em
detrimento da resistência.
Retirados o que se supunha serem os últimos corpos, o consórcio
construtor teria iniciado, no final
da semana passada, apressados travamentos de cambota.
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