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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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PF diz ter indícios para incriminar senador como mandante de grampo

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O inquérito da Polícia Federal sobre os grampos irregulares em telefones de políticos baianos apresenta evidências de envolvimento do senador Antonio Carlos Magalhães como suposto mandante das escutas. O documento foi enviado ontem à Justiça para prorrogação de prazo para sua conclusão.
"Tendo em vista [ACM] ter sido citado e até apontado por vítimas do grampo como mandante, ele vai precisar ser ouvido e apresentar sua versão para o que aconteceu", disse ontem o delegado da PF Gesival Gomes.
A Folha apurou que o delegado trabalha com um organograma no qual o senador ocupa o topo de uma rede de escuta fraudulenta de telefones. Segundo o gráfico, a ex-secretária de Segurança Pública Kátia Alves receberia ordens de ACM e as repassaria ao delegado Valdir Barbosa e a Alan Farias, assessor da secretaria.
A PF ainda não possui provas concretas dessa relação entre ACM e Kátia. O depoimento dela e eventual quebra de sigilo telefônico da ex-secretária poderão confirmar ou não a suspeita.
Até agora, a PF identificou 466 pedidos irregulares de escuta telefônica em 232 números em 2002. Alguns telefones foram grampeados mais de uma vez. Barbosa e Farias assinam os pedidos para quebra de sigilo telefônico feitos à juíza Tereza Cristina Navarro, da Comarca de Itapetinga.
Constam do inquérito policial os números dos deputados Nelson Pellegrino (PT-BA) e Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que pediu a abertura do inquérito, e do ex-deputado Benito Gama. Todos são adversários de ACM.
O envolvimento do senador baiano começou a se evidenciar, segundo o inquérito da PF, com os depoimentos de Adriana Barreto, ex-namorada do parlamentar, e de Plácido Faria, atual marido de Adriana. Os dois citaram o senador como mandante.
Adriana, em seu depoimento, disse que ACM afirmou a ela que grampearia seu marido. A interceptação foi feita na sede da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, o que, segundo a PF, representa envolvimento de autoridades do governo no episódio.
Essa rede de ligações no governo ainda será analisada pelo delegado Gomes. Ontem ele pediu prorrogação por mais 30 dias para ouvir testemunhas antes de elaborar um relatório final.

Perguntas
Para elaborar o organograma e chegar ao mandante dos grampos, a PF elaborou algumas perguntas. Os policiais queriam saber quem teria interesse em grampear os telefones das vítimas, se havia a possibilidade de alguém interceptar diálogos de Adriana sem o conhecimento de ACM e por que o senador manuseou as transcrições.
Enquanto não tem acesso à quebra de sigilo telefônico de Barbosa e Farias, a PF identificou quatro evidências contra o senador. O depoimento de Adriana, o manuseio das transcrições de diálogos pelo parlamentar, a suposta confissão à revista "IstoÉ" e o poder político do parlamentar na Bahia.
A partir da influência política que o senador possui no Estado, os policiais concluíram, segundo apurou a Folha, que há poucas chances de alguém, mesmo inimigo de ACM, ter mandado grampear sua ex-namorada sem seu conhecimento.
A parte operacional do grampo foi feita na sede da secretaria, por um grupo de técnicos ligados ao gabinete da então secretária. Barbosa despachava sempre com Kátia, segundo o inquérito. Oito pessoas se revezariam nas escutas. Esses auxiliares de Barbosa e Farias deporão após o Carnaval.
Se obtiver mais informações sobre a suposta relação da ex-secretária com o crime, Gomes vai convocá-la para depor. E os técnicos da TIM responsáveis pelo recebimento das autorizações judiciais podem revelar outros tentáculos da rede de escutas irregulares.


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