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ELEIÇÃO ENGESSADA
TSE ignorou diferenças entre Estados, diz cientista político
Poderes regionais afrontam verticalização das alianças
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de verticalizar as
coligações, que teve o alegado
propósito de fortalecer nacionalmente os partidos, gerou uma celeuma. Do PT ao PFL, todos têm
dificuldades para formar alianças
para a disputa presidencial. Os
"vilões" seriam os Estados.
O pré-candidato do PSDB, José
Serra, enfrenta dificuldades para
indicar o vice da sua chapa, que
deve ser do PMDB. O PFL, após a
derrocada de Roseana Sarney
(MA), continua sem rumo claro.
O PT de Luiz Inácio Lula da Silva,
que lidera as pesquisas, corre o
risco de ficar sozinho no pleito.
Tudo por causa dos Estados.
O TSE, ao só admitir coligações
nos Estados entre partidos já coligados nacionalmente ou que, no
plano federal, tenham se esquivado de fazer alianças, expôs a força
do regionalismo político que, para cientistas sociais ouvidos pela
Agência Folha, sempre existiu.
A força dos Estados "se torna
mais evidente diante da patetice
que o TSE fez. Isso é uma Federação. O país é heterogêneo. Os Estados têm realidades que são diversas. Na verdade, isso sempre
foi parte importante do jogo de
composições, com resultados no
plano nacional." A colocação é do
cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da
UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais), para quem a coalizão pressupõe "um jogo complexo de acomodação entre interesses partidários diversos [no plano
nacional] e, de maneira destacada, interesses regionais diversos".
Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista política da Universidade de São Paulo, disse que
as composições eleitorais e as coalizões de governo sempre foram
pautadas pelos interesses partidários e regionais no período democrático de 1946 a 1964 e a partir da
redemocratização, em 1985.
"A única coisa que tornou mais
complicado é que antes [da verticalização] havia mais flexibilidade para fazer essa composição, na
medida em que a aliança nacional
não precisava coincidir ponto por
ponto com a aliança nos Estados.
Mas as composições estaduais são
importantes, sempre foram levadas em conta na composição do
governo, distribuição dos ministérios, distribuição dos cargos."
Prioridade aos Estados
Mas, no cenário atual, as composições regionais têm evidenciado que, antes da aliança nacional
de seus partidos, os políticos estão
preocupados com a influência
que exercem nas suas bases.
Por isso o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos
(PMDB), depois de trabalhar meses para ser vice de Serra, jogou a
toalha. Temendo que fosse implodida a estrutura de sustentação
política no seu Estado, da qual faz
parte PMDB-PFL-PSDB, Jarbas
preferiu ficar em Pernambuco.
Deve se candidatar à reeleição.
Para completar o drama, a cúpula do PMDB enfrenta agora a
resistência dos diretórios regionais, que querem que as pendengas locais sejam solucionadas antes de o vice de Serra ser indicado.
"A questão do vice deve ser consequência dos problemas estaduais". disse o senador Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado, que tenta evitar o fim da aliança PMDB-PSDB-PSB em Alagoas.
O problema alagoano estaria
solucionado caso não houvesse a
verticalização. Se o PMDB apoiar
Serra, o PSB em Alagoas não poderia fazer parte da aliança regional, já que o partido tem pré-candidato a presidente (Anthony Garotinho). Mas a solidez dessa
aliança opõe o PMDB de Alagoas
à cúpula nacional do partido
O filósofo e ex-presidente do
Cebrap (Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento), José Arthur Giannotti, disse não acreditar que seja verdadeira a colocação de que o político pensa primeiro na própria sobrevivência.
"Não creio. As questões regionais são sempre inconstantes.
Agora, elas assumem uma importância maior na medida em que se
esgota a hegemonia que o governo do Fernando Henrique Cardoso tinha articulado do centro para
a direita." Segundo Giannotti,
"como isso terminou, nós temos
agora todo um processo de reorganização de uma nova hegemonia, que a meu ver nasce no centro. Hoje tem uma efervescência
de partidos e problemas mais particulares. Então temos essa bagunça que está acontecendo".
Sem a pauta que guiava os partidos que compunham a hegemonia construída pelo governo FHC,
a desorientação atinge os Estados.
Por essa lógica, se o PFL estivesse afinado com o PSDB e Serra, algumas dificuldades regionais poderiam ser contidas pelo PMDB,
por exemplo, que poderia se ver
ameaçado de perder espaço na
aliança. Seria imposto um freio
aos Estados. Além disso, a aliança
construída por FHC era guiada
por alguma regra ou princípio.
Mas a realidade é outra. O PFL
rompeu com o governo e está sem
rumo. Admite apoiar o PSDB desde que Serra não seja o candidato,
conforme disse na quinta o presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), baseado numa consulta
aos deputados pefelistas. Como o
PSDB não cede, a tendência é liberar os diretórios regionais.
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