São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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TODA MÍDIA

Decisão histórica

NELSON DE SÁ

O "Valor" deu manchete rara, com letras grandes para proclamar:
- Brasil vence os Estados Unidos em disputa inédita.
Não era futebol e sim uma "decisão de grande importância, não só para o Brasil":
- A Organização Mundial de Comércio deu seis meses para os EUA retirarem os subsídios às exportações de algodão.
É "decisão histórica", insistiu o "Valor", no que foi secundado pela revista "The Economist", que adiantou uma reportagem de apoio aberto:
- O Brasil obteve uma vitória contra o subsídio de gargântua da América ao algodão.
"New York Times" e "Wall Street Journal" sublinharam que é decisão "preliminar", mas não omitiram, pelo contrário, seu impacto.
O primeiro disse que ela "põe Bush num nó apertado num ano eleitoral, em que republicanos contavam com os fazendeiros", e explicou:
- Eles são dependentes dos US$ 19 bi que recebem ao ano... Os subsídios ao algodão, por exemplo, fizeram dos EUA o maior exportador do mundo.
O "NYT" insinua que George W. Bush vai recorrer, apesar das poucas chances, "para adiar a decisão para depois da eleição". Seu porta-voz, ontem no site do próprio jornal, confirmou:
- Defenderemos o interesse agrícola dos Estados Unidos de todas as maneiras.
A exemplo do "Valor", o "NYT" afirma que é "o primeiro desafio à política agrícola de um país rico" jamais feito e, outra vez, explica:
- Os US$ 300 bi em subsídios agrícolas pagos pelas nações mais ricas, anualmente, vêm sendo a praga dos fazendeiros do Terceiro Mundo. ONU e Banco Mundial dizem que a sua redução seria isoladamente o maior auxílio possível aos países pobres.
O conservador "Wall Street Journal" repisa que "a decisão será amplamente aplaudida no mundo em desenvolvimento", mas se concentra nos EUA. Diz que um "impacto direto" deve demorar, devido aos recursos, mas acrescenta:
- Mesmo assim, a decisão deverá complicar a estratégia comercial dos EUA. A derrota vai enfraquecer a posição de barganha de Washington nas negociações da OMC.

O PAÍS DA PORNOGRAFIA

Rede TV!/Reprodução


Anteontem, a Rede TV! apresentava imagens de longas pornográficos brasileiros e desfilava mulheres, ainda em horário nobre, num suposto concurso para encontrar a "atriz" que estrelaria um novo filme (acima).
Jornais como "New York Times" e vários da Califórnia, como o "Union-Tribune" de San Diego, vêm publicando reportagens sobre a pornografia no Brasil -de início por conta da suspeita de que um ator pornô americano teria contraído Aids numa filmagem brasileira e, ao voltar, teria provocado o colapso da indústria nos EUA.
Mas não é mais só pela suspeita. Os cineastas pornôs americanos, "cheios de dólares", estariam vindo ao Brasil atrás das "mulheres exóticas e desinibidas" e dos "custos baixos de produção". Em meio ao debate eleitoral sobre "exportação de empregos" americanos para outros países, o Brasil se transformou num concorrente, como sublinha um título de despacho da Associated Press:
- Acrescente as estrelas pornôs à lista dos empregos americanos exportados.
O editor de uma revista da "indústria do cinema adulto" chegou a dizer que "o Brasil é o lugar para se mudar, hoje". A razão é a mais racional possível:
- O custo de uma atriz pornô brasileira é de cerca de US$ 175 por cena, apenas uma fração do que esse talento custa na área de Los Angeles.

A vez da Índia
Jornais indianos repercutiram amplamente a decisão da OMC contra os subsídios americanos ao algodão. O país é o terceiro maior exportador do mundo, atrás de EUA e China. Mas não se restringem a isso as notícias sobre o Brasil por lá.
No domingo, lia-se em vários jornais uma reportagem sobre o enfrentamento conjunto que Brasil e Índia fazem ao subsídio americano ao camarão.

Agenda global
Ontem, no indiano "Financial Express", em longa entrevista de um economista local doutorado em Cambridge, lia-se a seguinte opinião, entre outras:
- A união de Índia, Brasil e África do Sul trouxe de volta à agenda global a preocupação com o desenvolvimento.

Bate-estaca
Dia após dia, no estatal "Diário do Povo" ou na estatal agência Xinhua, um despacho conclama à aproximação de Brasil e China. Ontem foi a vez do ministro Luiz Fernando Furlan, que sublinhou aos chineses a importância do comércio bilateral.

G20 contra G7
Em meio às repercussões da vitória comercial do Brasil sobre os EUA, a Reuters deu que um ex-diretor do Banco Mundial, num estudo para o instituto Brookings de Washington, pede a troca do G7 (dos países ricos) pelo G20 (dos países ricos, mais aqueles em desenvolvimento) como a "autoridade maior na economia global".
Entre os novos sócios, China, Brasil, Índia e Rússia.

Ele diz, ela diz
Carlos Alberto Sardenberg e Míriam Leitão bateram cabeça, na CBN, ao opinar sobre a alta no desemprego. Ele dizia que era próprio do mês, ela entrou depois opinando que já era hora de ter caído.

Metodologia
Opinião de Cláudia Safatle, do "Valor", na Globo News:
- Tem uma questão que a gente precisa começar a pensar. O IBGE só calcula desemprego nas regiões metropolitanas. Se olhar o resto do país, há cidades com pleno emprego.
Para ela, os critérios podem distorcer a ação estatal.


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