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JANIO DE FREITAS
Mais verdades em falta
O artigo de resposta de
Benjamin Steinbruch a Antônio Ermírio de Moraes, publicado na Folha de domingo a
propósito do negócio de privatização da Vale, jogou minério
pesado e mal odoroso no ventilador, inclusive naquele com
que o articulista aparentemente
pensava refrescar-se. Em desvios
do tema principal, Steinbruch,
ainda que involuntariamente,
deu novos aspectos graves ao caso da propina de R$ ou US$ 15
milhões naquela privatização.
Antes de mais nada, como é
lenta a memória de Benjamin
Steinbruch. Levou quase um
mês para lembrar-se de que não
pagou nem lhe foi pedida a propina por Ricardo Sérgio, conforme a denúncia de Luiz Carlos
Mendonça de Barros e do ministro Paulo Renato com suas declarações de que o pedido lhes
foi narrado pelo próprio Steinbruch.
Diante do que diz agora o artigo, é inevitável a pergunta:
Steinbruch mentiu a Mendonça
de Barros e ao ministro Paulo
Renato?
Se não mentiu então, contando-lhes o que de fato se passava,
o que se pode dizer da sua afirmação atual de que "as propaladas [por Mendonça e o ministro" propinas pedidas pelo sr.
Ricardo Sérgio" são "um fato
absolutamente inverídico"?
Mas se Steinbruch não mentiu
aos dois, porque nada lhes houvesse contado, os dois mentiram
nas suas declarações. E se mentiram, com isso trouxeram gravíssimos ônus para o processo
eleitoral por interferência, para
um candidato à Presidência da
República e para a República
mesma, com as quedas de títulos e a elevação do dólar. Um
dos passíveis de tal responsabilidade é nada menos que um ministro de Estado, condição que
não poderia manter em caso de
mentir sobre o processo de privatização do seu governo e pelas
demais consequências.
Nem por isso o problema se
transferiria todo a Mendonça
de Barros e Paulo Renato.
Aquele ônus era ainda incipiente quando Steinbruch foi procurado por jornalistas e se recusou
a confirmar ou negar as declarações dos dois, o que tende visto como confirmação indireta.
Mentira de um lado ou do outro, suas implicações foram, ou
têm sido, muito sérias. Benjamin Steinbruch prometeu uma
"homenagem à verdade". Como
sabe Steinbruch, e Ricardo Sérgio também, promessa é dívida.
E pelo menos umas das dívidas
de Steinbruch não foi paga e,
ainda por cima, estendeu a mais
pessoas (ele inclusive) e fatos as
suspeitas em torno da dívida
polemizada.
A escolha
O assunto talvez pareça irrelevante, mas não é. Envolve a
qualidade mesma do processo
eleitoral sob o predomínio do
marquetismo.
A propósito de nota aqui publicada na sexta-feira, o deputado Michel Temer manda mensagem com este tema básico:
"Eu não disse que Rita foi escolhida pelo Nizan. Disse-o Pedro
Simon". A nota também não
disse que o deputado o dissera,
nem disse que Pedro Simon o
disse.
O que a nota disse que "Michel Temer deixa claro: foi a escolha de Nizan Guanaes, o marqueteiro de Serra".
O ombudsman Bernardo Ajzenberg já registrara, negativamente, as afirmações contrárias
feitas pelo noticiário da Folha,
segundo o qual Nizan propunha
Simon, e, de outra parte, o Painel e esta coluna.
No mesmo dia em que aqui
saía a nota, "O Globo" publicava a narrativa da repórter Isabela Abdala, com quem jamais
falei, para os momentos posteriores à escolha de Rita Camata:
"Decepcionado, Simon recusou o convite [para ir à casa de
Temer". O presidente do PMDB
foi então ao seu encontro, para
lhe comunicar a escolha. Disse
que tinha pesado na decisão a
opinião do publicitário Nizan
Guanaes".
Também de "O Globo", logo
abaixo da manchete "A Rita levou a vaga", este subtítulo: "Serra e Nizan dobraram a cúpula
do PMDB com o argumento de
que a deputada atrai mais votos". Mais abaixo, esta abertura
de texto:
"A indicação da deputada Rita Camata para candidata a vice na chapa de José Serra mostrou a força do pré-candidato e
de sua equipe de marketing, especialmente do publicitário Nizan Guanaes, na condução da
campanha. A palavra final na
escolha foi de José Serra. Nas recentes conversas que teve com o
tucano, Nizan alertou para a
necessidade de sensibilizar o voto feminino".
Palavras, a respeito da escolha, de Michel Temer: "Ninguém pode negar suas qualidades, mas o critério foi de gênero", ou seja, por ser do sexo feminino. Estava deixando claro
(na expressão da nota aqui publicada) que escolha seguira o
argumento e a indicação de Nizan Guanaes.
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