São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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JANIO DE FREITAS

Mais verdades em falta

O artigo de resposta de Benjamin Steinbruch a Antônio Ermírio de Moraes, publicado na Folha de domingo a propósito do negócio de privatização da Vale, jogou minério pesado e mal odoroso no ventilador, inclusive naquele com que o articulista aparentemente pensava refrescar-se. Em desvios do tema principal, Steinbruch, ainda que involuntariamente, deu novos aspectos graves ao caso da propina de R$ ou US$ 15 milhões naquela privatização.
Antes de mais nada, como é lenta a memória de Benjamin Steinbruch. Levou quase um mês para lembrar-se de que não pagou nem lhe foi pedida a propina por Ricardo Sérgio, conforme a denúncia de Luiz Carlos Mendonça de Barros e do ministro Paulo Renato com suas declarações de que o pedido lhes foi narrado pelo próprio Steinbruch.
Diante do que diz agora o artigo, é inevitável a pergunta: Steinbruch mentiu a Mendonça de Barros e ao ministro Paulo Renato?
Se não mentiu então, contando-lhes o que de fato se passava, o que se pode dizer da sua afirmação atual de que "as propaladas [por Mendonça e o ministro" propinas pedidas pelo sr. Ricardo Sérgio" são "um fato absolutamente inverídico"? Mas se Steinbruch não mentiu aos dois, porque nada lhes houvesse contado, os dois mentiram nas suas declarações. E se mentiram, com isso trouxeram gravíssimos ônus para o processo eleitoral por interferência, para um candidato à Presidência da República e para a República mesma, com as quedas de títulos e a elevação do dólar. Um dos passíveis de tal responsabilidade é nada menos que um ministro de Estado, condição que não poderia manter em caso de mentir sobre o processo de privatização do seu governo e pelas demais consequências.
Nem por isso o problema se transferiria todo a Mendonça de Barros e Paulo Renato. Aquele ônus era ainda incipiente quando Steinbruch foi procurado por jornalistas e se recusou a confirmar ou negar as declarações dos dois, o que tende visto como confirmação indireta.
Mentira de um lado ou do outro, suas implicações foram, ou têm sido, muito sérias. Benjamin Steinbruch prometeu uma "homenagem à verdade". Como sabe Steinbruch, e Ricardo Sérgio também, promessa é dívida. E pelo menos umas das dívidas de Steinbruch não foi paga e, ainda por cima, estendeu a mais pessoas (ele inclusive) e fatos as suspeitas em torno da dívida polemizada.

A escolha
O assunto talvez pareça irrelevante, mas não é. Envolve a qualidade mesma do processo eleitoral sob o predomínio do marquetismo.
A propósito de nota aqui publicada na sexta-feira, o deputado Michel Temer manda mensagem com este tema básico: "Eu não disse que Rita foi escolhida pelo Nizan. Disse-o Pedro Simon". A nota também não disse que o deputado o dissera, nem disse que Pedro Simon o disse.
O que a nota disse que "Michel Temer deixa claro: foi a escolha de Nizan Guanaes, o marqueteiro de Serra".
O ombudsman Bernardo Ajzenberg já registrara, negativamente, as afirmações contrárias feitas pelo noticiário da Folha, segundo o qual Nizan propunha Simon, e, de outra parte, o Painel e esta coluna.
No mesmo dia em que aqui saía a nota, "O Globo" publicava a narrativa da repórter Isabela Abdala, com quem jamais falei, para os momentos posteriores à escolha de Rita Camata:
"Decepcionado, Simon recusou o convite [para ir à casa de Temer". O presidente do PMDB foi então ao seu encontro, para lhe comunicar a escolha. Disse que tinha pesado na decisão a opinião do publicitário Nizan Guanaes".
Também de "O Globo", logo abaixo da manchete "A Rita levou a vaga", este subtítulo: "Serra e Nizan dobraram a cúpula do PMDB com o argumento de que a deputada atrai mais votos". Mais abaixo, esta abertura de texto:
"A indicação da deputada Rita Camata para candidata a vice na chapa de José Serra mostrou a força do pré-candidato e de sua equipe de marketing, especialmente do publicitário Nizan Guanaes, na condução da campanha. A palavra final na escolha foi de José Serra. Nas recentes conversas que teve com o tucano, Nizan alertou para a necessidade de sensibilizar o voto feminino".
Palavras, a respeito da escolha, de Michel Temer: "Ninguém pode negar suas qualidades, mas o critério foi de gênero", ou seja, por ser do sexo feminino. Estava deixando claro (na expressão da nota aqui publicada) que escolha seguira o argumento e a indicação de Nizan Guanaes.



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