São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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CAMPO MINADO

Sem-terra invadiram 109 propriedades no mês passado, maior número já registrado pela Ouvidoria Agrária

"Abril vermelho" bate recorde de invasões

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chamado "abril vermelho", onda de ações no campo liderada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), registrou 109 invasões de terra -o maior número já computado num único mês pela Ouvidoria Agrária Nacional, criada em 1999 pelo Palácio do Planalto.
Para a ouvidora agrária nacional substituta, Maria de Oliveira, que falou sobre o caso, os números "assustam" e trazem "preocupação". "Os fazendeiros não vão tolerar mais as invasões. Isso preocupa", disse.
De janeiro a abril, ocorreram 165 invasões, contra 68 no mesmo período do ano passado -um avanço de 142%. As invasões deste ano já superam o total registrado em 2001 (158) e 2002 (103). Em 2003, primeiro ano da administração de Luiz Inácio Lula da Silva, foram 222 casos. Em abril de 2003, foram 21 invasões.
Segundo balanço divulgado ontem pela ouvidoria, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, a região Nordeste concentrou 57 das 109 invasões. O Sudeste vem em seguida: 29 casos.
No ranking dos Estados, a liderança ficou com Pernambuco (23), seguido de São Paulo (14), Minas (12) e Sergipe (11). Entre os movimentos, o MST foi responsável por 79 casos. Atrás dele, na segunda posição, aparece o MTL (Movimento Terra Trabalho e Liberdade), com seis invasões.
Os números são comparáveis somente a partir de 2000. Até 1999, os dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço agrário da Igreja Católica, integravam os balanços anuais da reforma agrária do governo. No ano seguinte, o levantamento passou a ser feito pela Ouvidoria Agrária Nacional.
CPT e ministério têm metodologias diferentes. Para o ministério, deve ter boletim de ocorrência relatando a invasão ou relatos das superintendências regionais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Já a CPT, além dos dados policiais, colhe informações com agentes da Pastoral nos Estados, movimentos sociais e imprensa.

Preocupação
Segundo Maria de Oliveira, "a única opção do governo é avançar com a reforma agrária" para o cumprimento das metas de assentamentos -115 mil famílias neste ano e 400 mil até 2006.
Para João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, as ações de abril foram "positivas". "As ocupações alertaram a sociedade [...] O tema entrou na pauta", disse o coordenador. Ele afirmou, porém, que "não houve reflexo nos assentamentos".
Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente nacional da UDR (União Democrática Ruralista), afirmou que os números de abril "mostram a cara da política de reforma agrária" do governo Lula.
"A promessa de pacificar o campo não foi cumprida."


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