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ANOS REBELDES
Tudo apontava para a frente, diz tucano
Movimento estudantil reúne Serra e Dirceu
DA SUCURSAL DO RIO
O passado aproximou dois
adversários do presente. O ministro José Dirceu (Casa Civil) e
o pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra,
sentaram-se ontem lado a lado
no lançamento do projeto "Memória do Movimento Estudantil", no Museu da República, no
Rio, e cochicharam três vezes.
Dirceu e Serra se reencontraram na escada que dá acesso ao
salão nobre do Palácio do Catete
(sede do governo federal até
1960, hoje Museu da República).
A troca de cumprimentos, diante de uma grande foto do presidente Lula, foi rápida e monossilábica. Dentro do salão, na mesa-redonda conduzida pelo jornalista William Waack, ambos
arriscaram prognósticos sobre o
movimento estudantil e lembraram os tempos de militância.
Serra era presidente da União
Nacional dos Estudantes em
1964. Com o golpe, ele se exilou
no Chile. Dirceu foi presidente
da União Estadual dos Estudantes de São Paulo e era candidato
à presidência da UNE em 1968,
quando foi preso em Ibiúna. Em
1969, foi expulso do Brasil.
Só no final de sua última intervenção, Serra fez uma referência
velada a Lula. "Entender o Brasil
de hoje é fundamental para mudar o Brasil de amanhã. E de
uma vez por todas. Porque está
muito difícil mudar", disse.
Também participaram da mesa-redonda, entre outros, o ministro da Coordenação Política,
Aldo Rebelo, e o deputado Lindberg Farias (PT-RJ), ambos ex-presidentes da UNE. O senador
Marco Maciel (PFL-PE) também participou do evento.
Serra afirmou que, em sua
época, o movimento estudantil
só pensava no futuro. "Não era
época de ficar só fazendo balanço da classe. Era uma época em
que se apontava para a frente e,
evidentemente, tudo ficava mais
fácil. Tínhamos a Revolução Cubana, que havia vencido o imperialismo a poucas milhas da costa americana, enfim, um processo grande de transformações.
Sempre se achava que a mudança estava atrás da esquina."
Para Dirceu, o movimento estudantil não teve um papel apenas político nos anos 60, mas
também cultural: "Só a repressão da ditadura impediu que
nós tivéssemos, na verdade,
uma segunda Semana de Arte
Moderna, a partir da geração de
68. Muitos foram assassinados,
mas nós estamos aqui para realizar os sonhos que eles tinham".
Dirceu ganhou uma bandeira
e um boné da UNE. Ele não quis
falar da ação de indenização por
danos morais que move contra
João Francisco Daniel, irmão de
Celso Daniel, assassinado em
2002: "Só falo sobre movimento
estudantil".
(LUIZ FERNANDO VIANNA E MURILO FIUZA DE MELO)
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