São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Sociólogo amigo de FHC dá apoio a Lula

Alain Touraine considera o presidente o único líder capaz de fazer as transformações sociais de que o Brasil precisa

Intelectual atribui esquema do mensalão ao stalinismo do PT e diz que nem Alckmin nem Garotinho são capazes de conter a pressão popular

UIRÁ MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A BAKU

O sociólogo francês Alain Touraine, 80, amigo de Fernando Henrique Cardoso e um dos intelectuais mais respeitados daquele país, considera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o único capaz de realizar as transformações sociais de que o Brasil precisa e que os brasileiros agirão de forma irracional se não o reelegerem. Ele não ignora o mensalão, mas atribui os escândalos às práticas antidemocráticas do PT. Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha na 13ª Conferência da Academia da Latinidade, realizada entre os dias 19 e 21 de abril, em Baku:  

FOLHA - O que caracteriza a situação atual do Brasil?
TOURAINE
- Há uma expectativa muito grande, uma confiança enorme em Lula, um símbolo do povo. A força simbólica de Lula foi tão grande que, talvez, isso tenha sido uma maneira para uma população que não se mobiliza nunca se mobilizar ainda menos que de costume, esperando tudo do presidente. Nos anos que virão, a pressão social vai aumentar. Vai existir nos próximos anos um risco real de populismo, de neopopulismo, não diria autoritário, mas muito personalizado.

FOLHA - Lula representa um risco?
ALAIN TOURAINE
- Não diria isso de maneira nenhuma. Em um país que tem pouca capacidade de mobilização, Lula tem representado as expectativas de mobilização de maneira pessoal. Existe um risco de que a segunda Presidência possa enfrentar uma pressão mais forte. Lula é a única pessoa que pode manter um equilíbrio entre as demandas populares e um caminho de institucionalidade e respeito à estrutura econômica internacional. Um país como o Brasil pode escolher um presidente que responda menos que Lula aos anseios da população? Alckmin responde seguramente menos. Seria algo muito pouco lógico, sem sentido, irracional não reeleger Lula. A não ser que haja uma catástrofe, que Lula esteja envolvido em algo.

FOLHA - Para o sr., Lula é a única opção de que o Brasil dispõe para efetuar transformações sociais?
TOURAINE
- Sim. Não se imagina Garotinho governando o Brasil.

FOLHA - E quanto a Alckmin?
TOURAINE
- O fato de terem escolhido Alckmin significa, para mim, que o PSDB deve esperar mais quatro anos. Se não, Serra seria o candidato, pois é uma figura mais presidencial, não?

FOLHA - Mas o escândalo de corrupção não te impressiona?
TOURAINE
- Impressiona muito.

FOLHA - Por que não abala sua confiança em Lula?
TOURAINE
- Porque o que os escândalos têm demonstrado é que o PT não é um partido democrático, que é ainda fundamentalmente um partido de tipo stalinista.

FOLHA - O sr. separa Lula do PT? Acredita que ele não se envolveu? Do contrário, o sr. estaria defendendo alguém que sabe corrupto.
TOURAINE
- Claro. Ninguém acha que o presidente não estava a par do que acontecia no PT. Ele deixou isso ser feito porque precisava da maioria. Isso foi demonstrado, se descobriu. Se Lula tinha que cair, tinha que cair no começo. Não vejo por que cair agora.


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