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Grupo queria lobby de Renan na Casa Civil, revela grampo
Em conversa, investigados dizem contar com senador para pressionar Dilma
Objetivo seria incluir no PAC obra na qual foi descoberta fraude; o presidente do Senado diz que só fala hoje e a ministra não foi localizada
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diálogos captados pela Polícia Federal revelam que acusados de integrar o esquema de
corrupção da construtora Gautama articularam para que o
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), fizesse
lobby para pressionar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil)
a liberar recursos para uma das
obras fraudadas pelo grupo.
Os acusados disseram que
trataram com o senador, segundo as interceptações telefônicas, para que o projeto fosse
incluído no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
A obra é a barragem do rio
Pratagy, em Maceió (AL), para
a qual a União já repassou R$
30 milhões, de um total previsto de R$ 70 milhões. O projeto
foi, de fato, incluído no PAC e
teve sua previsão de gastos ampliada para R$ 120 milhões.
Os grampos da PF, obtidos
pela Folha, demonstram que
pelo menos três integrantes da
quadrilha, presos na Operação
Navalha, tinham proximidade
com Renan e com um de seus
assessores, identificado pela
polícia como Everaldo. O senador tem um assessor chamado
Everaldo Ferro. O lobby sobre
a ministra Dilma é citado em
pelo menos dois momentos.
No dia 30 de março, o então
secretário e o subsecretário de
Infra-estrutura de Alagoas,
Adeílson Teixeira Bezerra e
Denisson de Luna Tenório, falam em preparar, de forma irregular, um documento sobre a
barragem do Pratagy para que
Renan pudesse pressionar a
ministra.
Adeílson: "Eles têm que fazer
um estudo preliminar em 15
dias [...].
Denisson: "Rapaz, em 15 dias
não sai."
Adeílson: "Foi esse o prazo
que o Enéas [de Alencastro Neto, representante do governo
de Alagoas em Brasília] ficou
preso lá e a gente prometeu a
Renan que a gente fazia".
Denisson: "Como é que você
vai fazer uma coisa dessa sem
topografia? É chute".
Adeílson: "É chute mesmo,
não é projeto executivo [...]. É
só um documento para o Renan pressionar a Dilma na liberação do recurso".
A juíza Eliana Calmon (Superior Tribunal de Justiça), relatora do caso, incluiu Denisson e Adeílson no terceiro nível
da organização criminosa, formada por funcionários públicos encarregados de remover
obstáculos aos interesses da
quadrilha. Em troca, receberiam propina.
No dia 23 de abril, Adeílson
conversa com Enéas de Alencastro. Adeílson não só conta a
Enéas que estivera um dia antes com o senador como dá recados, segundo ele, a pedido do
presidente do Senado.
Adeílson: "Olhe, outra coisa
que o senador me pediu. Disse
para a gente se sentar, nós dois,
e evidentemente levar isso para o governador, e ver o que
acrescenta às obras estruturantes para botar logo no PAC".
O próprio assessor de Renan
teve conversas gravadas. São 13
diálogos em que o senador é
mencionado, dos quais 2 envolvem diretamente Everaldo.
Em uma das gravações, o empresário Zuleido Veras, dono
da Gautama, orienta sua secretária, a enviar um telegrama
desejando parabéns ao senador, a quem chama de "amigo".
Sobre um dos diálogos, entre
Zuleido e Everaldo, a PF levanta a suspeita de o tema da conversa se referir a pagamento de
propina, mas sem especificar a
quem. Eles falam sobre Renan
e o deputado Olavo Calheiros
(PMDB), irmão do senador.
"Zuleido diz que, para a semana, disseram que resolvem
aquele negócio, até segunda.
Everaldo diz que tenha cuidado
com Olavinho [Olavo Calheiros], pois parece que ele fica em
cima, o ministro [não identificado] estava falando. Zuleido
diz que tem que ter calma [...] e
pede para transmitir os parabéns para o amigo [Renan]."
No dia 22 de fevereiro deste
ano, Fátima Palmeira, funcionária da Gautama, conversa
com um funcionário da empresa Brastubo chamado Fernando. Ele conta que havia estado
com Renan em Maceió e que o
senador lhe dissera que sairia
R$ 1 bilhão para a adutora do
rio São Francisco, em Sergipe
(obra também investigada pela
PF), e que não faltaria dinheiro
para a barragem do rio Pratagy.
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