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Base aliada tenta votar hoje nova CPMF
Governistas querem alterar projeto da emenda 29, limitando verba adicional para saúde à arrecadação de novo tributo
Proposta é juridicamente
controversa: Constituição só
permite criação de novos
tributos não cumulativos, e
contribuição é cumulativa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A base governista no Congresso decidiu que apresentará
hoje a proposta de criação da
CSS (Contribuição Social para
a Saúde), nos moldes da extinta
CPMF, em uma estratégia para
desidratar o projeto que eleva
as verbas para o setor.
Segundo os líderes aliados ao
Planalto, o novo tributo também incidirá sobre os débitos
em conta corrente, com as isenções vigentes na cobrança da
contribuição anterior. A alíquota, porém, será de 0,1% -a
da CPMF era de 0,38%. Os cerca de R$ 10 bilhões anuais em
receita esperada seriam destinados integralmente à saúde.
A proposta, que será feita por
projeto de lei complementar, é
juridicamente "controversa",
como admite o líder do governo
na Câmara, Henrique Fontana
(PT-RS). A Constituição só permite criar por esse instrumento tributos não cumulativos -e
a CPMF, pelo consenso que vigorava ao menos até ontem, era
um tributo cumulativo, ou seja,
incidente em todas as etapas do
processo produtivo.
"Nós temos avaliações de que
a CPMF nunca foi um tributo
cumulativo", disse Fontana. A
Folha perguntou ao deputado
quem havia produzido essas
avaliações. "Um grupo de pessoas qualificadas", respondeu,
sem citar nomes: "Elas podem
se revelar depois, se quiserem".
O plano dos governistas não
se limita, porém, ao novo tributo. Pretende-se alterar também
a essência do projeto já aprovado pelo Senado que eleva as
verbas da saúde dos atuais R$
50 bilhões para pouco mais de
R$ 70 bilhões anuais. Pelo modelo a ser apresentado aos deputados, os recursos adicionais
para o setor se limitariam à receita da CSS, se o tributo sobreviver ao Senado e a previsíveis
questionamentos na Justiça.
A idéia foi fechada em reunião na tarde de ontem entre o
ministro José Gomes Temporão (Saúde), líderes dos partidos aliados e representantes.
Horas antes, o ministro já havia
defendido que o setor ficasse
com a regra atual de financiamento, criada em 2000 pela
emenda constitucional 29
-gastos corrigidos anualmente
conforme a inflação e o crescimento da economia- e "um
plus", correspondente à CSS.
Mais tarde, Fontana e o líder
do PT, Maurício Rands (PE),
confirmaram que essa seria a
proposta alternativa dos governistas para a regulamentação
da emenda 29 -o Executivo
não assume oficialmente participação na empreitada. Pelo
texto, a saúde também seria beneficiada com R$ 1 bilhão de
um aumento do IPI sobre os cigarros, mas esses recursos precisam ser repartidos com Estados e municípios.
Líderes da bancada da saúde,
uma das mais poderosas do
Congresso, protestaram, e a
oposição decidiu obstruir as
votações na Câmara. "O que eu
acho é que o governo não contava com o que o Senado iria fazer e está tentando achar uma
solução", disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). O
projeto aprovado pelo Senado
no início do mês eleva a verba
da saúde ao substituir a correção dos recursos pela variação
do Produto Interno Bruto por
uma vinculação de 10% da receita bruta da União.
Atraso
O texto aprovado pelos senadores criou um constrangimento político para o presidente Lula. Na hipótese de a proposta ser ratificada pela Câmara e sancionada pelo Planalto,
poderia ser necessário sacrificar outros áreas do gasto público para cumpri-la; na perspectiva de vetar o aumento de verbas, Lula arcaria com as conseqüências em ano eleitoral.
Com a estratégia definida ontem, o governo tenta condicionar a expansão do gasto à criação de um tributo de legalidade
duvidosa. No mínimo, é provável que consiga retardar a aprovação final da regulamentação
da emenda 29. Se for modificado pela Câmara, o projeto terá
de voltar ao Senado. Se a CSS
for aprovada, só começará a ser
cobrada 90 dias após a sanção
presidencial.
(GUSTAVO PATU, MARIA CLARA CABRAL E ANGELA PINHO)
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