São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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GASTOS COM VIAGENS

Empresa é acusada de vender bilhetes e os cancelar, mas dinheiro era embolsado

Itamaraty investiga fraude em passagens

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sindicância interna do Itamaraty identificou indícios de fraude na venda de passagens aéreas para o órgão, envolvendo uma empresa de turismo de Brasília, a Voetur, e o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
O documento foi concluído em abril e encaminhado ao Ministério Público, que pediu à Polícia Federal a abertura de um inquérito para investigar o caso, que foi revelado por reportagem da edição de ontem de "O Estado de S.Paulo".
"O esquema é simples. A Voetur assinava contratos, emitia bilhetes e os cancelava. Recebia, no entanto, pelas viagens canceladas", afirma o procurador da República Luiz Francisco de Souza.
A Voetur foi a agência contratada em 1997 para vender bilhetes aéreos à UAP (Unidade de Administração de Projetos). A unidade, vinculada à ABC (Agência Brasileira de Cooperação) -órgão do Itamaraty-, era responsável em administrar os recursos do Pnud para todos os ministérios do governo. Ou seja, a UAP gerenciava a compra de passagens.
No final do ano passado, o presidente do Sindicato de Empresas de Turismo do Distrito Federal, Raimundo Fontenele Mello, denunciou ao Itamaraty o suposto esquema de corrupção.
"Eu recebi as informações do senhor Marcos [Fernandes Rocha] e repassei, no ano passado, ao Itamaraty", disse Mello. Rocha é ex-sócio de Carlos Alberto de Sá, o proprietário da Voetur.
A assessoria de imprensa do Itamaraty informou ontem que o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) determinou a investigação interna assim que recebeu as informações.
Apesar da investigação interna apontar para indícios de fraudes, não houve nenhuma punição, pois, segundo o Itamaraty, não havia servidores do Ministério das Relações Exteriores envolvidos no caso. A UAP, que já foi fechada, não tinha nenhum diplomata entre seus funcionários.
O contrato entre o Pnud, a Voetur e a UAP terminou em fevereiro de 2002, ano da campanha presidencial, mas a empresa de turismo continua prestando serviços ao Itamaraty no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que tomou posse em janeiro de 2003. Ela é uma das agências de viagens que vendem passagens para o ministério.
De acordo com o Itamaraty, a denúncia indicava um desfalque de cerca de R$ 1 milhão. Segundo o procurador da República, o valor total das viagens que apresentaram problemas é de R$ 30 milhões. O procurador, no entanto, afirma que a fraude pode envolver negócios de mais de R$ 100 milhões entre o Itamaraty e a Voetur.

Outro lado
O proprietário da Voetur, Carlos Alberto de Sá, não foi encontrado ontem para comentar as denúncias. A reportagem tentou entrar em contato com Sá por meio dos telefones da empresa disponíveis na internet. A Voetur possui filiais em diversos locais do Brasil, como São Paulo e Belo Horizonte.
Os funcionários de plantão afirmaram que não seria possível localizar nem Alberto de Sá nem um dos diretores da empresa, pois ontem era domingo.


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