São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2007

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PMDB põe aliado de Renan na presidência de conselho

Leomar Quintanilha assume o órgão que conduz processo contra presidente do Senado

Dia marcado por várias negociações e reviravoltas acaba com convite a Renato Casagrande (PSB-ES) para assumir relatoria do caso

SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após mais de 12 horas de negociações e várias articulações frustradas, PMDB e PT se uniram na noite de ontem para eleger o senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), aliado do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), como presidente do Conselho de Ética.
Candidato de última hora, Quintanilha derrotou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), por 9 votos a 6. Dos 16 membros do conselho, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) foi o único que não apareceu -ele não tem suplente. Foi uma vitória da maior bancada da Casa, o PMDB, que tem 20 integrantes, com o respaldo do PT, que se recusou a entregar a presidência do conselho à oposição.
Pouco antes da votação, os dois postulantes ao cargo usaram táticas similares mirando dois votos considerados "indefinidos". Virgílio anunciou que, se eleito, indicaria o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) para relatar o processo contra Renan. Em seguida, Quintanilha rebateu anunciando que queria Renato Casagrande (PSB-ES) ocupando o posto.
Após ser surpreendido com a indicação, Casagrande pediu prazo até hoje para responder ao convite, mas sinalizou que deve aceitá-lo. "Minha posição é que pudéssemos aprofundar as investigações de fatos correlatos à denúncia", disse, sinalizando que poderá ampliar as apurações. A próxima sessão do conselho será na terça.
Apesar de ter sido uma saída para somar um voto, a indicação de Casagrande é considerada uma opção de risco, já que ele foi um dos que cobrou o aprofundamento das investigações que envolvem Renan.
Quintanilha fez um breve pronunciamento no qual prometeu conduzir o processo contra Renan "pelos ditames do regimento e da Constituição" e que assumia o "compromisso com a verdade". "Acolho como uma missão", disse.
Quintanilha é um dos senadores que mais trocaram de partidos na Casa. Fazendeiro, ele migrou do PMDB para o PC do B em 2005. Voltou ao PMDB no ano passado. Antes, fez parte do extinto PFL, sigla que deixou em 2003. Foi presidente da Arena, partido de sustentação da ditadura militar, em Araguaína, em 1976, e eleito deputado federal pelo PDS (sucessor da Arena, em 1988).
Do outro lado, Virgílio fez um pronunciamento duro, afirmando que "soluções domésticas não vão resolver a crise que se instalou no Senado". "Três já renunciaram, não queremos ver um quarto", disse, em alusão aos dois relatores que deixaram o posto, Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Wellington Salgado (PMDB-MG), e o ex-presidente do conselho Sibá Machado (PT-AC).
A eleição de Quintanilha, consumada por volta das 22h30, foi o desfecho de um impasse que se arrastou por todo o dia e dominou corredores e até o plenário da Casa. Até as 21h não havia definição nem sequer se a sessão de votação ocorreria na noite de ontem.
Após a renúncia de Sibá, a oposição se articulou e lançou o nome de Virgílio. O DEM apoiou a proposta. O tucano, então, entrou na vaga de titular do conselho no lugar de Marisa Serrano (PSDB-MS).
Ao sugerir seu próprio nome, Virgílio tentou ainda uma jogada, propondo que Aloizio Mercadante (PT-SP) ingressasse no conselho para ser o relator.
Nos bastidores, a avaliação era que se costurava uma estratégia conjunta, com o dedo do governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), aliado de Renan, para escolher um relator com respaldo na Casa e disposto a enviar o caso ao Supremo Tribunal Federal. Teotônio esteve no Senado ontem. Mas a engenharia não durou muito: Mercadante tentou inverter o cenário e se dispôs a aceitar a presidência do conselho, mas não a relatoria. "A relatoria é de um caso, mas a presidência seria por dois anos", afirmou a líder do PT, Ideli Salvatti (SC).
A partir daí, as negociações migraram para o plenário. Da cadeira da presidência, Renan participou das articulações enviando recados e bilhetes.


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