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ELIO GASPARI
Meirelles precisa sair do Banco Central
O doutor Henrique Meirelles deve ser retirado da
presidência do Banco Central.
Deve deixar o cargo porque,
graças ao repórter Weiller Diniz, descobriu-se que em 2001
ele não apresentou declaração
de Imposto de Renda à Secretaria da Receita Federal, pois morava em Boston, onde presidia
um grande banco americano.
Nesse mesmo ano, Meirelles adquiriu um mandato de deputado federal pelo PSDB, informando à Justiça Eleitoral que
residia em Goiânia. Meirelles
explica: domicilio fiscal e domicilio eleitoral são coisas diferentes.
Tudo bem. No ano passado,
Carlos Massad, presidente do
Banco Central do Chile, teve de
renunciar ao mandato porque
seu fiel secretário extraía informações de seu computador para
encantar uma namorada papeleira. Os mimos valeram US$
100 milhões para a corretora onde a moça trabalhava. Massad
poderia ter argumentado que a
honorabilidade de um renomado acadêmico, presidente de
Banco Central, é coisa diversa
de um jovem secretário desonesto e apaixonado. O mandato do
professor ia até 2007, mas tanto
ele como o presidente Ricardo
Lagos preferiram encerrá-lo.
Em abril, o presidente do Banco Central da Alemanha, Ernst
Welteke, viu-se obrigado a renunciar porque no Ano Novo de
2002 aceitou uma boca livre de
US$ 9.000 do Dresdner Bank.
Acreditar que quatro diárias de
um magnífico hotel de Berlim
possam influenciar o comportamento do financista mais poderoso da Europa é coisa risível.
São realmente coisas diversas. O
salário do presidente do Bundesbank vai a US$ 400 mil
anuais. Welteke deixou o cargo
porque o episódio "afetou a reputação do banco e o exercício
de suas responsabilidades".
Meirelles elegeu-se deputado
por Goiás morando em Boston.
Gastou R$ 887 mil do próprio
bolso na campanha e teve 183
mil votos. Se um cidadão pretende representar o povo brasileiro na Câmara dos Deputados,
o mínimo que se espera é que
pague Imposto de Renda no
país onde pretende legislar sobre
os tributos dos outros. Boston foi
o berço da Revolução Americana, aquela na qual se gritava
"nenhuma taxação sem representação". O governo Lula ganhou com Meirelles um caso de
representação sem taxação. O
PT Federal faz o caminho inverso da infância do capitalismo
americano, chega à senilidade
vestindo calças curtas.
Pode-se entender que um garçom brasileiro que vive em Boston não declare Imposto de Renda à Receita e mantenha seu domicilio eleitoral em Governador
Valadares. Não é esse o caso de
Meirelles. Ao contrário do motorista de táxi, suas propriedades no Brasil devem ter produzido alguma renda em 2002. A reportagem de Weiller Diniz informa que há uma sensível discrepância entre o patrimônio
que o candidato declarou publicamente ao TRE goiano em
2001 (R$ 45 milhões) e aquele
que o banqueiro declarou sigilosamente à Receita em 2002 (R$
96 milhões).
Meirelles tem um tique intelectual muito comum no andar
de cima nacional. Gosta de contrapor as coisas do Brasil aos
costumes dos "países civilizados", como se Pindorama ainda
não tivesse terminado o seu vestibular civilizatório. Talvez fosse
o caso de o doutor Meirelles se
perguntar qual país, civilizado
ou não, tem um presidente de
Banco Central com as suas características domiciliares, tributárias e patrimoniais.
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