São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Esquema sanguessuga agiu em 493 cidades, diz Vedoin

Segundo empresário, fraude em licitações envolveu quase 10% das prefeituras do país

Mato Grosso é o Estado, diz dono da Planam, com maior participação de municípios na máfia, 110; acordos eram fechados com congressistas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O depoimento do homem apontado como o chefe da quadrilha dos sanguessugas mostra que a Planam e suas empresas de fachada fraudaram licitações para compra de ambulâncias e de equipamentos hospitalares em pelo menos 493 prefeituras espalhadas por 22 Estados do país.
O esquema -que envolveria quase 10% das cidades brasileiras- era sempre o mesmo, segundo Luiz Antonio Trevisan Vedoin. Deputados federais e senadores ligados à quadrilha direcionavam verbas do Orçamento da União para que prefeituras adquirissem os veículos e os equipamentos.
Em conluio com os prefeitos, era armada uma licitação faz-de-conta: participavam, por exemplo, a Planam e outras empresas criadas por ela justamente para participar das concorrências fictícias. Vencida a licitação, a mercadoria superfaturada era entregue. O dinheiro que sobrava ia para a Planam, que repassava parte dele para prefeitos, assessores e congressistas -esses últimos levariam propina média de 10% do valor da emenda que apresentavam.
Os Estados que mais teriam participado do esquema são Mato Grosso (110 prefeituras), Paraná (50 prefeituras), Minas Gerais (42 prefeituras), Rondônia (35 prefeituras) e Pará (32).
"Todos os acordos eram realizados com os parlamentares. Se os municípios não aceitassem as condições impostas pelos parlamentares, perdiam o dinheiro da emenda", diz a transcrição do depoimento de Vedoin quando ele se referia ao Estado onde a quadrilha mais teria atuado, Mato Grosso.
Um exemplo citado por Vedoin nesse Estado: O ex-prefeito de Alta Floresta (MT) Romualdo Júnior teria assinado um cheque da prefeitura no valor de R$ 10,4 mil destinado a uma das empresas da Planam. Os Vedoin então o endossaram e o devolveram ao ex-prefeito.

Lindberg
O depoimento de Vedoin envolve na quadrilha o prefeito de Nova Iguaçu (RJ), ex-deputado federal e ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Lindberg Farias (PT).
"No município de Nova Iguaçu, o interrogando [Vedoin] vendeu seis veículos, no valor total de R$ 400 mil. Pelo fato de o interrogando não possuir nenhum acordo com o parlamentar [responsável pela emenda], a negociação se deu junto ao secretário de Administração André, que falava em nome do prefeito Lindberg Farias."
Em outro trecho, Vedoin disse que Lindberg, então deputado, apadrinhou uma emenda da quadrilha e depois, como prefeito, a executou.
"O deputado e prefeito tinha conhecimento que a emenda seria direcionada", diz o texto, ressalvando que Lindberg não recebeu "qualquer comissão por essa emenda".

Associações
Segundo Vedoin, não houve fraude nas licitações feitas por prefeituras no Rio Grande do Norte. Emendas apresentadas pelo ex-deputado Laire Rosado (PMDB-RN) prestaram-se, porém, a lastrear pagamento de propinas ao parlamentar.
Nas contas de Vedoin, as emendas desviadas ultrapassam o milhão de reais. A comissão de Rosado, segundo Vedoin, ficou em 10% do total repassado às entidades -muitas das quais comandadas por familiares do ex-deputado.
Na Bahia, Estado no qual Vedoin aponta a existência de pelo menos 30 licitações fraudadas, os prefeitos tiveram conhecimento das fraudes, mas não receberam propina. O mesmo aconteceu com a entidade ABC, localizada em Salvador.
(RANIER BRAGON E ANDRÉA MICHAEL)


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