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JANIO DE FREITAS
Os propósitos reais
O aspecto político do mensalão continua como incógnita, sem ter recebido atenção do jornalismo
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O DEBATE QUE animou a sessão
de ontem do Supremo Tribunal Federal -houve formação de quadrilha na cúpula do PT
quando financiava parlamentares e
partidos?- leva a questões tão ou
mais importantes, mas não alcançadas, antes, pela CPI do Mensalão
nem, agora, pela vasta e robusta denúncia que o STF está examinando.
Os fatos que constituíram o chamado mensalão e a dinheirama de
caixa dois têm, acima de outros possíveis, dois ângulos de considerações fundamentais: o criminal, com
suas faces policial e jurídica; e o político. O primeiro já passou etapas
bem-sucedidas na Polícia Federal e
na Procuradoria Geral da República,
de onde provieram os constatações
que o Supremo decide, nestes dias,
em que partes (e contra quem)
transforma em processos criminais.
O aspecto político continua como
incógnita, para não dizer mistério,
sem ter recebido atenção do jornalismo e sem suscitar a mais leve curiosidade dos intitulados "cientistas
políticos".
A que finalidades reais, frustradas
a partir de um incidente súbito na
pequena corrupção nos Correios,
destinava-se o esquema acionado
pela cúpula do PT?
Não seria necessário todo aquele
sistema complexo, com envolvimento de pelo menos três bancos,
duas corretoras, outras cinco empresas, dinheiro grosso e fácil na obtenção e na destinação, tudo isso só
para montar na Câmara uma base
de apoio a projetos do governo.
Duas evidências arruinam esse
pretexto de defesa usado pela então
cúpula do PT e seus representantes
no Congresso, nos meios de comunicação e nos inquéritos policiais.
Nunca foi necessário antes, e continuou sendo desnecessário no governo Lula, tal esquema financeiro para
montar base de apoio parlamentar,
como bem comprova a obviedade de
que, explodido o esquema, a Câmara
se manteve até hoje a serviço do governo -como se não passasse de
apêndice da Presidência.
É assim, de fato, por força de outro
método de corrupção política, o toma lá/dá cá em que os cargos e gastos públicos são a moeda corrente.
Esse método não entrou em uso, porém, como substituto emergencial
do grande esquema estourado. Já
estava em prática desde a formação
do governo. E permaneceu, em atividade paralela, quando o grande esquema se pôs em ação.
Além disso, dispõe-se há anos da
obviedade de que Lula e a cúpula do
PT não tinham, ao tornar-se governo como não têm até hoje, nenhuma
intenção de propor ao Congresso os
projetos reformistas da ilusória
campanha presidencial, talvez um
ou outro necessitado de base parlamentar mais forte. Não é possível alguém ter dúvida respeitável de que
Lula e a cúpula do PT assumiram
com um projeto conservador, no
máximo maquiado com alguma tintura assistencialista. Nada, nem de
longe, algo que exigisse base parlamentar especial e, assim sendo, proveniente de esquema também especial -e como.
A cúpula do PT não agiu sem propósitos que iam além do dia-a-dia na
Câmara. Disso também não se pode
ter dúvida, sabendo-se de quem se
trata. Mas, para a possível resposta à
incógnita sobre as finalidades reais,
de tudo o que está sob as denominações mascarantes de mensalão e caixa dois, a palavra só está com os que têm interesse vital em silenciá-la.
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