São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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ALAGOAS
Perito contesta ex-seguranças
Novo laudo sugere luta na noite da morte de PC

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


Um laudo inédito da Polícia Científica de Alagoas sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino conclui que houve luta na sala da casa onde o casal foi encontrado e que os funcionários de PC mentiram ao contar que arrombaram a janela pela qual disseram ter entrado no quarto onde estavam os corpos.
O documento inédito, a ser entregue na quarta-feira ao Ministério Público, relata a reconstituição do crime com a participação dos funcionários de PC que estavam na casa de Guaxuma, em Maceió, onde o patrão e a namorada foram encontrados em 1996.
"Os seguranças que afirmam ter arrombado a janela do quarto mentiram. Eles entraram pela porta do corredor", afirmou em entrevista à Folha o perito Ailton Villanova, diretor da Polícia Científica e coordenador do laudo.
As duas principais conclusões de Villanova e sua equipe se baseiam no relato, registrado em vídeo, da caseira Marize Carvalho. Ela e outros funcionários depuseram na reconstituição feita nos dias 30 de abril e 1º de maio.
Marize confirmou que foi ela quem fechou a janela do quarto de PC, dando duas voltas no ferrolho. "Na reconstituição, vimos que, mesmo dando uma só volta, seria impossível arrombar a janela sem quebrá-la", disse o perito.
Na opinião de Villanova, os seguranças, policiais militares, teriam entrado pela porta do corredor, o que seria possível "com apenas um chute".
Segundo a versão dos seguranças, aceita no inquérito policial de 1996, eles entraram no quarto pela janela, abrindo-a com a ajuda de uma barra de ferro, depois de chamar o patrão, sem resposta.
"O cabo Reinaldo Lima, um dos seguranças, disse que temia que uma desgraça tivesse acontecido. Se estava com pressa, arrombaria a porta com um só chute", declarou Villanova.
A polêmica sobre a abertura da janela nasceu em 1996, mas só agora uma reconstituição oficial conclui ser falsa a versão dos funcionários de PC.
Outra dúvida da época, que Vil- lanova pensa ter esclarecido, se refere à desarrumação da sala onde a bala que matou Suzana foi encontrada, depois de atravessar uma parede de compensado do quarto.
Segundo a descrição de Marize, a bagunça era tanta que deve ter sido provocada por "uma briga, uma luta".
"Perguntei a ela se, após jantares como o da véspera, sempre encontrava a sala naquelas circunstâncias. Marize disse que foi a primeira vez, daí concluir que houve luta." Villanova disse não saber quem brigou.
O laudo complica ainda mais os ex-funcionários de PC. Quatro ex-seguranças já foram indiciados por duplo homicídio.
A polícia agora investiga um suposto autor intelectual. Segundo o delegado Alcides Andrade, é "quase inevitável" o indiciamento do deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC, sob a acusação de ser o mandante das mortes.
O novo laudo, se correto, indica que houve uma trama para matar o ex-tesoureiro de campanha de Fernando Collor, com muitas pessoas mentindo, como acreditam os delegados.
Na semana que vem, a polícia abre inquérito para apurar suposta tentativa de suborno do delegado Antônio Carlos Lessa por um emissário de Augusto Farias.
A Folha tentou ontem ouvir o advogado dos ex-funcionários de PC, mas não conseguiu. Foi feriado em Maceió.



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