São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA
Agressão aconteceu quando sem-terra invadiam fazenda; proprietário não foi localizado
Seguranças ferem cinegrafista no PR

WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Curitiba

Seguranças armados com revólveres e espingardas entraram em confronto ontem com sem-terra durante a tentativa de invasão de uma fazenda no município de Cascavel (PR).
Um cinegrafista da TV Tarobá, emissora retransmissora da Rede Bandeirantes na cidade, foi ferido nas costas ao levar coronhadas de seguranças contratados por fazendeiros.
O conflito ocorreu na manhã de ontem, quando cerca de 400 famílias tentaram invadir a fazenda São Domingos. Armados, 16 seguranças atiraram para o alto e fizeram os sem-terra recuar.
A Agência Folha tentou contatar, por telefone, Maria Elisa Festugato, que seria a proprietária da fazenda São Domingos, mas ela não foi localizada em sua casa.
Os integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) estavam acampados havia três meses na fazenda Refopaz que, segundo o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), é produtiva.
Antes que o governo estadual cumprisse o mandado de reintegração de posse, os invasores decidiram deixar a área e invadir uma propriedade vizinha. Os fazendeiros já estavam esperando a ação e colocaram funcionários na divisa das propriedades.
Na confusão, o cinegrafista Davi Ferreira da Silva, 27, foi ferido nas costas. A diretora de jornalismo da TV Tarobá, Taniclaer Marcon, disse ter sido informada que um dos ""jagunços" empurrou a câmera e bateu nas costas de Silva com um revólver engatilhado.
Silva teria sido ""salvo" por sem-terra que presenciaram a agressão e correram contra os seguranças.
A polícia não estava presente. O comandante da Polícia Militar em Cascavel, coronel Ailton Lino da Silva, disse que mandou uma equipe ao local após ser comunicado do fato. Até as 18h30, ele não tinha um relatório detalhado.
Para ele, os sem-terra exageraram sobre o fato. ""Quando fiquei sabendo do caso, disseram que havia sete mortos. Não há nada disso. Eles (os sem-terra) queriam que eu mandasse um batalhão lá, para chamar atenção de 60 jornalistas e criar um fato", afirmou.
Roberto Baggio, líder estadual do MST, afirmou que as famílias estavam sendo mantidas como reféns pelos seguranças, que não permitiam a saída da propriedade Refopaz.
O superintendente estadual do Incra, José Carlos de Araújo Vieira, disse que a situação já estava tranquila no final da tarde. Segundo Vieira, o órgão realiza na região vistoria em várias propriedades indicadas como improdutivas para assentar os sem-terra.


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