São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELDORADO DO CARAJÁS
Sessão que julgaria seis sargentos durou dez minutos; promotor pediu substituição de juiz
Julgamento de PMs volta a ser suspenso

LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém

LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Belém


O julgamento dos policiais militares envolvidos no massacre de Eldorado do Carajás (sul do Pará) foi novamente suspenso. A sessão de ontem, que deveria julgar seis sargentos, durou dez minutos.
No início da sessão, o promotor Marco Aurélio Nascimento, responsável pela acusação, pediu a substituição do juiz Ronaldo Valle, alegando que ele estaria conduzindo o julgamento de forma parcial. A questão será decidida pelo TJ (Tribunal de Justiça) do Pará.
Não há prazo para a retomada das sessões que irão julgar 147 PMs que participaram da desobstrução da rodovia PA-150 em 17 de abril de 1996, quando 19 sem-terra foram mortos. Cerca de 500 sem-terra que viajaram até Belém para acompanhar o julgamento deixaram a cidade na noite de anteontem.
"Se ainda este ano conseguirmos tomar as rédeas do processo, ou seja, reiniciarmos esse julgamento, nós já teremos feito bastante coisa", disse a presidente-interina do TJ, Climenie Pontes.
O promotor alegou que Valle não teria mais condições de presidir o júri porque, na segunda-feira, durante uma reunião aberta de desembargadores, Valle foi chamado de "safado" e "vendido" por parlamentares petistas e acabou ameaçando processá-los.
Também pelo fato de o juiz ter declarado publicamente que usaria o mesmo critério que acabou levando à absolvição dos três oficiais mais graduados envolvidos no caso.
Valle teve que suspender as sessões, mas atacou o promotor. "Mais uma vez ele mostra que não tem condições emocionais de participar desse julgamento."
O advogado de defesa dos sargentos, Luiz Abdoral Lopes, também criticou a atitude do promotor. "Foi uma palhaçada."

Recursos
Desde a semana passada, quando os jurados absolveram os três primeiros réus do processo (coronel Mário Colares Pantoja, major José Maria Oliveira e capitão Raimundo Almendra Lameira), a acusação vinha tentando parar as sessões seguintes.
Os outros 147 policiais militares iriam ser julgados em 26 sessões programadas para acontecer até dezembro.
Na sessão da sexta-feira da semana passada, dia 20, Nascimento abandonou a tribuna.
Para o promotor, as sessões seguintes seriam "contaminadas", porque o juiz usaria o mesmo quesito (pergunta feita aos jurados que define o veredicto) sobre insuficiência de provas, que absolveu os três policiais.
Durante esta semana, o TJ pressionou o Ministério Público para que fosse retomado o julgamento, ameaçando nomear um promotor à revelia.
O promotor, no entanto, anunciou sua volta apenas anteontem, depois de entrar com um mandado de segurança para a suspensão das próximas fases do julgamento. Mas deixou reservado para o reinício da sessão de ontem o pedido de afastamento do juiz.


Texto Anterior: Fórum pede investigação sobre compra de fazendas
Próximo Texto: Servidor descarta suborno
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.