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Surpreendido, governo tenta recriar pasta para Mangabeira
"O dado concreto é que nós vamos ter o ministério, porque precisamos", diz Lula
Planalto estuda maneira de dar status de ministro
extraordinário a filósofo, mas caminho poderá ser contestado no Supremo
MARTA SALOMON
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Surpreendido por uma rebelião na bancada do PMDB no
Senado, que deixou sem cargo o
ministro Roberto Mangabeira
Unger, da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, o governo estudava ontem criar por
decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um "ministério extraordinário" para acomodar o filósofo na Esplanada.
A alternativa, considerada a
mais provável ontem no Planalto, pode ser contestada no
Supremo Tribunal Federal,
apurou a Folha. Ministérios
extraordinários já foram criados antes, mas por lei -cuja
aprovação demora- ou por
medida provisória, caminho
agora vetado por causa da rejeição da MP 377, anteontem.
Diante das dúvidas jurídicas,
Lula disse que resolverá o assunto na segunda. "O dado concreto é que nós vamos ter o ministério, porque precisamos."
A medida provisória que
criou a pasta para Mangabeira,
criava também 660 cargos de
confiança na administração
pública. Ela foi rejeitada em
plenário anteontem, com 13
votos do PMDB -a bancada
tem 19 cadeiras. A rebelião peemedebista gerou uma crise na
base governista no Senado.
Mangabeira Unger, que foi
indicado ao cargo pelo PRB,
partido do vice José Alencar,
não quis se manifestar ontem.
Ele foi ministro por cem dias,
desde 18 de junho. Nesse período, teria cuidado de se apresentar aos colegas e criar grupos de
trabalho. "Continuamos trabalhando, estamos aqui na expectativa", disse o assessor Luiz
Carlos Cabral, um dos 22 integrantes da equipe do filósofo.
O governo não sabia informar ontem quantos dos cargos
de confiança criados pela medida provisória haviam sido
ocupados. Também era incerto
o destino dos funcionários. O
Congresso tem 60 dias para deliberar sobre os atos já praticados enquanto a MP vigorou.
Lula teria que enviar projeto de
lei ao Congresso para tentar recriar a pasta e os 660 cargos,
com remuneração mensal de
até R$ 10,4 mil.
O próprio Mangabeira participou de reunião com os ministros Paulo Bernardo (Planejamento), José Antônio Toffoli
(AGU) e técnicos da Casa Civil
para discutir alternativas. Na
reunião, chegou-se à conclusão
de que a saída para o imbróglio
não seria simples: a Constituição impede a reapresentação
de proposta objeto de medida
provisória no mesmo ano.
No início da manhã, o presidente chamou o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações
Institucionais) e o líder do governo no Senado, Romero Jucá
(PMDB-RR), para discutir o
problema. Na véspera, Jucá havia alertado o ministro sobre a
iminente derrota. Na ocasião,
apontou a "indiferença" do
coordenador político com o Senado como motivo do protesto.
Em conversas no Planalto,
foi discutida a possibilidade de
transformar Mangabeira numa
espécie de assessor especial da
Presidência, posição semelhante à ocupada por Marco
Aurélio Garcia, que tem gabinete no Planalto e cuida de temas internacionais. Com isso,
ele perderia status de ministro.
Colaboraram SILVIO NAVARRO e IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília
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