São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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No CE, municípios não conseguem médicos

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O principal problema do Programa Saúde da Família no Ceará é a falta de médicos, principalmente nos municípios mais distantes dos centros urbanos. Segundo a coordenadora estadual, Maria Imaculada Ferreira da Fonseca, 74 municípios solicitam médicos atualmente no Ceará, oferecendo salários de até R$ 6.000.
"Poucos se interessam por causa da própria formação universitária, que é voltada à especialização. No caso do médico do Programa Saúde da Família, ele tem de ser um generalista, e hoje não existe esse tipo de formação no Brasil", disse Maria Imaculada.
No Ceará, são 1.314 equipes. Em Fortaleza, para atender a demanda, seriam necessárias cerca de 900 equipes, mas só existem 101 atuando no momento.
"Somos praticamente obrigadas a não cadastrar novas famílias porque não dá tempo de atendê-las", disse a agente de saúde Eunice Pereira da Silva. "Estamos tão sobrecarregadas que o atendimento fica prejudicado.
"Poderíamos fazer um atendimento melhor", disse outra agente, Solange Maria Tabosa Martins. Elas visitam, por dia, 16 famílias e recebem R$ 200 por mês.
No Centro Social Urbano César Cals, no bairro do Pici, periferia de Fortaleza, trabalham cinco equipes, cada uma responsável por 1.300 famílias.
Além de receber todo mês a visita de uma agente de saúde, Cristina Ferreira, 27, à espera do quarto filho, vai mensalmente ao posto para o pré-natal. Desde a segunda gravidez, conta com a assistência do mesmo médico e da mesma enfermeira. "Dá uma tranquilidade muito grande", diz. "O que nos mantém no projeto é esse vínculo com os pacientes", disse o médico Cid Carlos Soares de Alcântara, no programa há quatro anos.
Entre as reclamações das equipes que trabalham no local, estão a falta de material -fichas de cadastro, lápis e canetas, remédios-, e a falta de vínculos empregatícios com a prefeitura.

Outro lado
Segundo o secretário de Saúde de Fortaleza, Aldrovando Nery, a causa do déficit de médicos no município é a falta de interesse dos profissionais. "A maioria não quer dar exclusividade, porque o programa exige que o médico tenha uma carga horária de oito horas diárias. Eles preferem trabalhar em outros locais", disse.


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