São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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RUMO À OPOSIÇÃO

Sem citar o nome de Lula em discurso, candidato derrotado diz que deseja boa sorte ao adversário no cumprimento dos compromissos assumidos durante a campanha

Serra cobra cumprimento de promessas

RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao reconhecer a derrota e desejar "boa sorte" ao adversário -sem citar o nome do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -, o candidato tucano José Serra deu a primeira indicação pública ontem de que seu destino é a oposição. "Ao vencedor desejo boa sorte na condução dos destinos do nosso Brasil", disse, para em seguida arrematar: "E boa sorte no cumprimento das promessas e compromissos de campanha que ele assumiu".
Serra falou no diretório estadual do PSDB de São Paulo, onde já o aguardava o governador reeleito Geraldo Alckmin. Estava ao lado da vice Rita Camata (PMDB) e da mulher Mônica.
Antes passara pela casa do publicitário Nelson Biondi, de onde telefonou para Lula, às 21h15, para cumprimentá-lo pela vitória. O tucano também conversou demoradamente com o presidente Fernando Henrique Cardoso pelo telefone.
No pronunciamento, ao se referir ao adversário como vencedor, houve um início de vaia na platéia. Serra interrompeu o discurso: "Eu queria fazer um pedido encarecido. Aqui tivemos hoje uma eleição, estamos aqui anunciando o resultado, que acolhemos. Isto com paz, sem qualquer espécie de agressividade."
No discurso, Serra fez uma saudação especial a FHC "pela absoluta isenção e imparcialidade ao longo do processo eleitoral".
Cansado e visivelmente emocionado, Serra afirmou que o governo FHC "honrou o Brasil" e "honrou a memória de homens públicos como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro e Mário Covas".
Por mais de uma vez Serra referiu-se aos "30 milhões de votos" que obteve. Para Biondi, ele sai da eleição "maior do que entrou". Segundo o publicitário, um dos principais estrategistas da campanha tucana, a vitória de Lula foi dada como definitiva por eles no meio do segundo turno.
"É o momento em que você vê que a vontade do povo é aquela e que você não muda mais. Não há marketing, não há mágica. O eleitor brasileiro, depois de tantas eleições, aprendeu, quase ficou profissional, e ele ficou independente. Nada mais o assusta."
O publicitário Nizan Guanaes não acompanhou a apuração com Serra e seus colegas de campanha. Viajou para Trancoso, na Bahia. O candidato derrotado deve viajar hoje para o exterior, mas até as 24h não havia anunciado seu destino. Deve ficar fora uma semana. Depois, volta para o Senado.

Votação
Durante o dia, Serra tentou não demonstrar abalo diante da provável vitória de Lula e se disse otimista ao pedir votos a eleitores ainda no início da tarde.
Talvez por já ter digerido a vitória do candidato do PT, Serra demonstrou tranquilidade e bom humor. Estava bem diferente do candidato tenso do último dia 6, quando não era certa a sua passagem para o segundo turno. Além da incerteza de sua continuidade na disputa, ou mesmo de que houvesse nova disputa, Serra enfrentava uma forte gripe.
O tucano votou às 9h40 no Colégio Santa Cruz, na zona oeste de São Paulo, acompanhado de sua mulher, Mônica, e de Alckmin. Ele demorou menos de dez segundos para votar.
Deixou a urna eletrônica, fez o sinal da vitória, mas voltou à cabine, atendendo a pedidos dos fotógrafos, que queriam mais imagens da hora do voto.
Às 12h, já em casa, Serra recebeu a visita das atrizes Regina Duarte e sua filha, Gabriela. Após quase uma hora de encontro, Regina, que foi criticada por ter aparecido no programa eleitoral de Serra declarando ter "medo" de uma vitória de Lula, deixou a casa do candidato dizendo apenas que "a democracia é uma coisa sagrada".


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