São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Delúbio insinua que mais envolvidos surgirão e que caixa 2 era conhecido

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares fez um desabafo ontem durante a acareação à qual foi submetido juntamente com Marcos Valério Fernandes de Souza e a ex-diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos. Delúbio deu a entender que petistas sabiam da existência de caixa dois.
"As pessoas sabiam", afirmou. "As demais vão aparecer nas investigações", declarou, sem dar nomes. Delúbio fez questão de afirmar que não foi candidato a nada e que as despesas de campanha não foram feitas por ele. O ex-tesoureiro foi expulso do PT no sábado. "Durante cinco anos em que fui tesoureiro nunca tive questionada a minha gestão", disse. "O processo [de expulsão] eu posso discordar, mas acato."
Em sua defesa apresentada ao Diretório Nacional do PT, o ex-tesoureiro disse que somente os diretórios do Mato Grosso do Sul, Acre, Piauí (coincidentemente os três Estados governados pelo PT) e Maranhão (onde um ex-tesoureiro do partido diz ter recebido recursos não-contabilizados do Diretório Nacional do PT) não foram beneficiados com "recursos não-contabilizados". Ontem, voltou a fazer a mesma afirmação.
Na acareação, os parlamentares procuraram esclarecer quem era o Roberto Marques que deveria sacar R$ 50 mil no Banco Rural, mas que foi substituído por um motorista da corretora Bônus-Banval. Essa corretora é acusada de repassar recursos do esquema Marcos Valério para o PP. Parlamentares suspeitam que Roberto Marques seria Bob Marques, ex-assessor do deputado federal José Dirceu (PT-SP), o que ele nega.
"Não me lembro quem pediu para que mudasse o nome do sacador", afirmou Valério, que já havia informado à CPI que só fazia pagamentos com autorização de Delúbio. "Não sei se o Roberto Marques em questão é o amigo do ex-ministro José Dirceu."
Apesar de ter confirmado os valores supostamente repassados para parlamentares e partidos, Valério admitiu que pode ter cometido algum erro. "Eu sou humano, quero dizer que não sou perfeito. Posso ter cometido equívocos, mas confirmo a lista."
O ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri reafirmou que o deputado federal cassado Roberto Jefferson (RJ) recebeu R$ 4 milhões de Valério, mas o publicitário e Delúbio negaram que tenham pago essa quantia ao PTB. "Ninguém assume que deu os R$ 4 milhões, e o Roberto Jefferson foi cassado porque afirmou que recebeu", lastimou Palmieri.
Bate-bocas foram comuns na sessão de ontem. Logo no início dos trabalhos, o relator, Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), informou que a acareação deveria servir para confrontar respostas e esclarecer declarações divergentes. Para o relator, a sessão não poderia ser utilizada para a tomada de depoimento dos depoentes.
Moroni Torgan (PFL-CE) discordou. "Somos juízes e nenhum juiz pode cercear o direito do outro", contestou. "Pode, sim", contrapôs Abi-Ackel. "Vossa Excelência está tumultuando os trabalhos", criticou o relator.
Até o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) protagonizou um instante de nervosismo. Delúbio respondia uma pergunta do senador quando o deputado João Correia (PMDB-AC) quis contê-lo.
"O senador Suplicy já esgotou seu tempo e não podemos abrir precedentes", afirmou. "Eu não excedi meu tempo e o senhor não tem direito de interromper o depoente", reagiu Suplicy. "Excedeu, sim", insistiu o deputado. Suplicy, nervoso, levantou-se, com o dedo em riste. Outros parlamentares intervieram para acalmar os ânimos. Minutos depois, já sorrindo, o senador cumprimentou o deputado.


Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Retaliação: Oposição cobra impeachment em acareação
Próximo Texto: Penélope da CPI: Ex-mulher borda "contra corrupção"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.