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ELEIÇÕES 2008 / PLANALTO
Lula diz que não acomodará vencedores nem derrotados
Prioridade do Planalto é evitar a reabertura de guerras por cargos entre aliados
Na avaliação de auxiliares presidenciais e de dirigentes do PT, Lula se expôs muito nas campanhas e amarga agora ônus político indireto
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em conversas reservadas, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse que os resultados
das eleições municipais não
vão alterar os espaços dos partidos em seu ministério a fim
de acomodar vencedores como
o PMDB ou derrotados como
Marta Suplicy.
Na avaliação de auxiliares
presidenciais e de dirigentes do
PT, houve exposição excessiva
de Lula nas campanhas municipais. Diante de um resultado
no qual o PT cresceu eleitoralmente, mas colheu derrotas em
três grandes capitais (São Paulo, Salvador e Porto Alegre), o
governo e Lula ficam com um
ônus político indireto.
Para o presidente, sua prioridade é fazer um bom gerenciamento dos efeitos da crise econômica mundial. Uma queda
significativa do crescimento
econômico na reta final do
mandato que afete a sua popularidade teria impacto no plano
de eleger o sucessor em 2010.
Os resultados, principalmente a derrota em São Paulo, são
vistos por auxiliares de Lula e
dirigentes do PT como um recado de que o partido cometeu
erros e de que a oposição não ficará de joelhos nas eleições de
2010, quando haverá disputa
para Presidência, governos estaduais (mais o do Distrito Federal), deputados federais, um
terço dos senadores e Assembléias Legislativas (inclusive a
Câmara Distrital de Brasília).
Na esfera política, a prioridade de Lula é evitar a reabertura
de guerras por cargos. Por isso,
já disse a auxiliares que não
pretende reabrigar Marta no
ministério. A petista perdeu a
eleição para o prefeito Gilberto
Kassab (DEM). Um eventual
retorno daria discurso ao
PMDB, partido que obteve o
maior número de prefeituras
na eleição, para pedir mais ministérios e cargos.
Lula prefere negociar com o
partido um entendimento para
as eleições de presidentes da
Câmara e do Senado. O Palácio
do Planalto articula a manutenção de um acordo de rodízio
entre petistas e peemedebistas
na Câmara. Agora, seria a vez
de o PT apoiar o presidente do
PMDB, Michel Temer (SP), para suceder o petista Arlindo
Chinaglia (SP).
Lula deseja que, no Senado, o
PMDB retribua esse apoio,
dando suporte à candidatura
do senador Tião Viana (PT-AC). Mas há resistências entre
senadores peemedebistas, sobretudo entre aqueles ainda influenciados por Renan Calheiros (AL), que renunciou à presidência da Casa em dezembro
de 2007 sob acusação.
Dirigentes do PMDB dizem,
reservadamente, que não é hora de esticar a corda com Lula
por mais cargos. No entanto,
avaliam que talvez seja complicada a negociação para que os
senadores apóiem um petista.
Transferência de votos?
O Palácio do Planalto não vai
admitir, mas Lula esperava ter
sido um cabo eleitoral mais eficiente. Prova disso: empenhou-se por candidatos mais do que
aconselharam auxiliares, que
preferiam uma atitude mais
discreta. Mas o presidente gravou mais depoimentos e fez
mais atos de campanha em tom
agressivo do que o definido nas
reuniões da cúpula do governo
antes de a campanha ganhar as
ruas em agosto.
De público, a avaliação do
presidente Lula é otimista. O
discurso já foi ensaiado. O PT
cresceu organicamente, Lula
não era candidato e pleitos municipais não são os mais adequados para testar a capacidade de transferência de votos de
um presidente bem avaliado.
Internamente, a história é
outra. No começo da campanha, orgulhoso de ser cortejado
até por oposicionistas, Lula
acreditou numa capacidade de
transferência de votos maior
do que a efetiva. Ele espera que
tenha mais sucesso em 2010,
caso supere a atual crise econômica. Seu plano é tentar eleger
a ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff, como sucessora.
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