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Verbas do Fundef são alvos de fraudes
EDUARDO DE OLIVEIRA
da Agência Folha
O Ministério da Educação recebeu 487 denúncias de irregularidades com verbas municipalizadas em 266 cidades brasileiras nos
últimos cinco meses.
O relatório sobre as fraudes no
Fundef (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério) -que começou a ser
feito em julho último- mostra
que elas atingem 24 Estados.
No Ceará, o Tribunal de Contas
dos Municípios encontrou notas
frias no valor de R$ 391 mil nas
contas da Prefeitura de Parambu,
R$ 318 mil nas de Quiterianópolis,
R$ 71 mil nas de Solonópolis e R$
20 mil nas de Novo Oriente.
As notas haviam sido emitidas
por empresas fantasmas do esquema do coronel reformado da
Polícia Militar José Viriato Correia Lima. Prefeituras do Piauí e
Maranhão também se beneficiavam do esquema.
Em Goiás, pelo menos 43 prefeituras são suspeitas de desviar recursos públicos usando notas
frias das empresas fantasmas Papelaria Papirus, Star-Med e Pro-Med -as duas últimas usadas na
fraude com recursos do SUS (Sistema Único de Saúde).
Todas as 11 prefeituras de Tocantins sob investigação da Procuradoria da República são suspeitas de desviar tanto verbas do
Fundef como do SUS. Em São
Paulo, a administração de Mirassol é acusada de sumir com R$
135,8 mil destinados à educação.
Técnicos dos tribunais de contas ouvidos pela Agência Folha
afirmam que é praticamente impossível descobrir o uso de notas
fiscais frias na prestação de contas
dos municípios relativa ao uso
das verbas de saúde e educação.
"Por força da lei, as prestações
de contas podem ser simplesmente feitas com um balancete,
sem as notas, que ficam no município, arquivadas em local apropriado, por até cinco anos, para
possibilitar uma checagem, caso
haja suspeita de alguma coisa errada", afirmou Jerônimo Leite,
secretário-geral do Tribunal de
Contas do Maranhão.
Conselhos municipais
Gestor do Fundef, o MEC afirma que depende da eficiência do
trabalho dos tribunais de contas
(municipais, estaduais e da
União) e dos conselhos de acompanhamento para fiscalizar, detectar e coibir desvios de verbas.
"A primeira e indispensável
providência, na minha opinião,
seria os tribunais de contas se mobilizarem para melhorar a fiscalização", declarou o diretor de
acompanhamento do Fundef,
Ulysses Semeghini.
As regras do fundo exigem a
criação de conselhos municipais
de acompanhamento -formados por representantes de pais,
professores e da prefeitura, nomeados normalmente pelos próprios prefeitos- que devem
acompanhar o uso dos recursos.
A legislação é omissa, porém,
sobre a forma como os representantes dos conselhos são escolhidos. O resultado é uma grande influência dos prefeitos na composição de órgãos que, teoricamente, deveriam fiscalizá-los.
Para Neroaldo Pontes de Azevedo, presidente da Undime (União
dos Dirigentes Municipais de Ensino), os conselhos municipais
funcionam de forma "precária".
"A sociedade ainda não tem o hábito e a organização para fiscalizar o poder público como convém", disse.
Sobre o desvio de verbas do
SUS, o ministro da Saúde, José
Serra, declarou que "aguarda
uma notificação do Ministério da
Justiça ou da Polícia Federal para
tomar as medidas cabíveis".
Colaboraram Kamila Fernandes, Paulo Mota e Irineu Machado, da Agência Folha
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